domingo, 21 de outubro de 2012

A NOITE DAS NOVIDADES

—Alô, Sapabela?
—Rospo! Você ligou!
—Está trovejando muito, um temporal está desabando.
—Tenho até receio de chegar perto da janela, por causa dos relâmpagos, fico pensando no quanto os relâmpagos encantaram nossos antigos. Tem alguma novidade, amigo?
—O movimento de translação prossegue... As estrelas explodem na mais infinita profundeza do universo...
—Que mais?
—Em alguns lugares está nevando, em outros um sol latente, em alguns vilarejos é noite enluarada, em outros, é calor de querer praia...
—Que mais?
—Há mesmo uma sincronicidade em tudo. A vida latejante pulsa no gafanhoto saltitante e a ventania desenha a sua valsa na verde fotossíntese das folhas. Uma criança sorri e o seu sorriso faz desabrochar a alegria nos corações...
—Rospo, essas são as novidades?
—Sim, há uma ligação forte em tudo o que acontece na imensidão. O azul da noite, as águas que se agitam, os pirilampos, as sapas que caminham nas calçadas em busca dos sonhos perdidos, os sapos que desaprenderam de sonhar por conta da ausência atrofiada da poesia e das fábulas... As necessidades travam batalhas com o prazer além das constelações e da suavidade do vento que diz que ele é a força imperceptível numa insondável noite de domingo...
—Quantas novidades, amigo! Tem alguma que considera maior?
—Sim, nalgum canto do planeta um sapo telefona para a sua amiga.
—No exato momento em que tudo acontece.

HISTÓRIAS DO ROSPO 2012  — 835

Marciano Vasques

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