sábado, 16 de fevereiro de 2013

DE CONVERSA EM CONVERSA

—Um livro é sempre mais...
—Rospo, gostei desse começo.
—Foi a fecundação, agora a conversa é gestada pelo interesse e o resto é só crescer, de forma educada.
—Forma educada? Gosto disso, pois sei que no seu entendimento não é recusar as belezas e as alegrias do mundo.
—Nem pensar, querida. Quero mesmo é viver intensamente cada alegria. A alegria que a amizade traz, o caminhar, o gosto de tecer...
—Prossiga, meu nego.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Rospo!
—Está bem, prossigo, é que fiquei subitamente feliz com a forma amorosa com a qual me tratou.
—Certo, mas fala do livro.
—O livro é sempre mais. Sempre! Ele é muito mais. Antes de seu destino que é o olhar sedento da aventura de crescer, pois para isso é ele, e não para ser empoeirado...
—Muito bem. Um livro entrelaça vários momentos...
—Ele é sempre muito, muito mais. Sempre, ele é como um sapo, uma sapa: você vê aquele rosto e aquele sapo não é apenas aquele momento... ele é uma trajetória, uma história...
—Isso me lembrou Ecléa Bosi.
—Que bom! Por isso adoro conversar com você. Conversas são tesouros preciosos, acumulados na memória afetiva de alguém. Conversa, eu diria, é altamente revolucionária. Se você realmente embarcar numa conversa....
—Adoro essa catacrese...
—Pois então, como é benéfico conversar! Como é produtivo e como é saudável para o intelecto!...
—A conversa educa uma vida, não é?
—Tece rumos, reorganiza...
—Para uma conversa precisa audácia...
—Ampliação de repertório...
—Desvencilhar-se da preguiça... O repertório existe, pois uma vida é feita de entrelaçamentos que representam a seiva de um vocabulário amoroso e amplo...
—Vai fundo, Rospo!
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Por que fui falar isso?
—Sapabela, a conversa conduz, representa a própria voz daquele que conduz, essa voz é voz cega, que vai tateando os assuntos que vão surgindo e abrindo o dourado brilho do Sol  feito rabanada nos olhos apaixonadinhos da meninazinha diante do aroma soberano de sua infância, ou o bolo feito com amor, destreza e delicadeza pela sapa ou pelo sapo responsável pela condução sensível da infância... Tem um ditado que diz: "Na boa conversa que converso até a rudeza vira verso"
—Um pouquinho mais, Rospo!, que sou criança também.
—Aletria, alfenim... lá vou, lá vou, trançar minha conversa na cabocla gentileza de um anoitecer de sábado.
—Não sei onde vive, Rospo! Ouça lá fora: não é tilintar das estrelas, não é o grilo, não é o som da canção que o vento despeja em nossa alma, é o quê? É o som raivoso, persistente e insensato de um motoqueiro, um som cada vez mais arrogante, que em círculos vai atazanando... Ah, Rospo, a rua nem é mais da ciranda faz tempo!...
—Sapabela, certas coisas só voltam se brotarem ou se instalarem em você, e só em você elas podem vicejar. O poder da transformação é infinito. Mas esse infinito, já diziam os mestres nas vozes dos tempos... Esse infinito está em você, pois em você erguem-se todos os reinos.
—Rospo, essa conversa atiçou um licor de anis...
—Licor de anis? Oh, que sapo feliz eu sou.
—Sei lá, é meio maluco...
—Lua minha, minha lua, vamos viver como ciganos brilhantes bailando num campo...
—Tudo é possível, meu bem. Quando se quer, só não pode se esquecer de que o querer é irmão do agir, do lutar, o querer só, por si, é inócuo, é ilusório. Ele é forte sim, por isso se diz: "Querer é poder!", isso só vale para quem entender que querer é sinônimo de fazer, de buscar, de lutar...Chegamos! Cá estamos na Padaria Rubi. Vai, Rospo!
—Ô camarada! Meu querido! Um licor de anis aqui pra sapa e um para mim.
—E não se esqueça, hoje é sábado: é noite de de canções, abraços, beijos, e muita doçura, muita amizade e muita alegria.
—É isso aí! Noite de sábado imita as outras noites da semana.
—Essa moça é forte, amigo.
—Sapabela, simplesmente Sapabela...
—Eu mesma!

ROSPO 2013 — 855

Marciano Vasques


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