terça-feira, 9 de abril de 2013

SEMIÓTICA DO OLHAR

Encontro especial numa noite de terça-feira:
—Rospo!
—Sapabela! Que alegria!
—Rospo, quando pensa na Política partidária nacional aqui do brejo, tem algum título de filme que ela faz você lembrar?
—Pergunta inesperada, Sapabela. Mas, tem sim. Tem...
—Diga, meu amigo... Já quero o ingresso... para entrar nessa conversa...
—A conversa é sua, minha querida.
—Qual é o título do filme?
—"O Silêncio dos Inocentes"!
—Supimpa! Quer falar?
—Só um punhadinho, um tiquinho.
—Manda bala!
—Não pode dizer uma coisa dessas aqui no brejo, Sapabela. Alguém pode ouvir e levar a sério.
—Faça-me rir, amigo. Noutro dia me pus a rir só de pensar naquela história de que a profissão do diabo é padeiro. Nem sabia que o cara trabalhava em padaria...
—É que quando eu era um menino, bem sapinho ainda,  ouvia meu pai dizer que "comia o pão que o diabo amassou"...
—Muito bem, mas fale o nome do filme que a política nacional do brejo faz você se lembrar.
—Eu já disse; "O Silêncio das Inocentes"...
—É mesmo! Fale então o tal bocadinho. Um exemplo, só um exemplo...
—A Sapa pediu, o universo parou para atender...
—Antes fosse...
—Querida, não se esqueça: O que parece geral não desfaz o que é bonito de se viver...
—Manda ver.
—Ocorre que diante do silêncio de partidos e políticos e militantes do brejo diante de uma revelação de corrupção e de desvio e uso do dinheiro público e da máquina administrativa em benefício próprio,  só se pode pensar que, além dos compromissos partidários que sacrificam a ética e o intelecto, realmente tem algo além...
—Rospo, gostei desse punhadinho, mas, diga algo sobre aquilo que falou no último licor...
—Sim?
—Semiótica do olhar, ou do amor...
—Sim, vamos lá: conversando, que é versar junto  a  vida, ou não apenas co-versando, mas versando com alguém, ou seja,  com versando, reparei que o amigo nem olhava para o meu rosto enquanto me falava, isto é, parecia que não conseguia mais olhar de frente para alguém...
—Certa vez estive com o Sérgio Bianchi e ele falou sobre o fato de que o hábito da televisão desviou o olhar. E, penso eu, agora o tablet...
—Justamente: e eu disse : "Não sou tela! Exijo uma semiótica do amor! Precisa consertar o olhar para que se manifestar possa o concerto da alma."
—E o que ele disse?
—Nem sei, eu já nem estava mais na ribalta. Eu estava mesmo era na ribanceira da vida, na rua, com todo o seu glamour...
—Glamour?
—Sim, a poeira, a pureza dos sapos que cavam com suor e força o pão e a seiva da vida...
—Fez bem, Rospo, fez bem. Inútil querer implantar a consciência de supetão... o importante, penso eu, é que você fale com alguém olhando firme no rosto, nos olhos... Assim devemos agir, Rospo... Lembre-se, no vendaval empoeirado, temos que estar bem no eixo, no eixo da tempestade... E fazer a nossa parte...
—A conversa está boa, Sapabela, mas vamos até a Padaria Rubi?
—Licor de anis? Já indo, Rospo, já indo...
—Yupiiii!


ROSPO 2013  —866

Marciano Vasques

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pesquisar neste blog