sábado, 22 de março de 2014

A SOCIEDADE JUSTA COMEÇA NA MULHER

A SOCIEDADE JUSTA COMEÇA NA MULHER


Mulher arrastada por um carro de polícia talvez não cause a comoção necessária para uma reação extraordinária da sociedade, mas me faz refletir sobre esse Ser.
Cantada pelos trovadores, pelos compositores e pelos poetas, idealizada pelo romantismo, também está presente nas grandes revoluções causadas pela Literatura no universo dos costumes e da moral de uma época: assim tem sido em todos os romances nos quais seja protagonista, desde o Madame Bovary,
gigante em sua época, que quase levou seu autor, Gustave Flaubert, à morte.
Mulher enquanto personagem sempre estremeceu a consciência dos leitores e aqui no Brasil não foi diferente; veja, por exemplo, o romance A Carne, do naturalista Júlio Ribeiro. Está entre os que sacudiram as Repúblicas e os impérios do mundo, causando reboliço na moral e nos costumes, e anunciando uma nova reflexão e uma nova ética.
Todavia não devemos nos esquecer de que mesmo personagens tidas como doces e açucaradas, como A Moreninha, do doutor Macedo, foram importantes para o advento do estabelecimento de um modo de pensar, e a Moreninha tinha lá a sua consciência, como se poderá constatar numa leitura crítica de algumas passagens da obra, que inaugurou de forma definitiva o folhetim, justamente direcionado ao público leitor feminino, e responsável entre outras coisas, pela popularização da Literatura.
Porém, naturalmente, a mulher não está apenas nas páginas dos livros. Mas também na vida real.
Dois mil anos de opressão é pouco. E nos textos antigos, como o mito de Pandora, está a origem dessa opressão, assim como também no texto hebreu que relata o mito de Adão de Eva.
Curioso notar que numa sociedade de valores culturais decadentes ou em transição, ela é sempre a primeira a ser vilipendiada ou ofendida.
A mulher, que dá à luz, — não que dê a luz, como se interpreta, mas que oferta à luz, oferece generosamente um novo ser à luz do mundo, e assim oferece a humanidade à luz. A humanidade nascida de seu ventre, de seu útero, e dessa forma, oferta o salvador à luz, pois cada filho, cada homem, por ter nascido da mulher configura-se mitologicamente como um salvador da humanidade.
Salvador aqui significa aquele que oferecerá a sua vida num ideal de construção de uma sociedade mais justa, humana, na qual prevalecerá a justiça e a igualdade, irmanadas à liberdade, o mais precioso bem da humanidade.
Entretanto, se a sociedade com seus desvios transforma esse homem, esse alguém nascido da mulher num ser promíscuo e destrutivo, isso é uma questão social profundamente grave.
A mulher não dá à luz um novo ser para que ele seja prostituído por qualquer sociedade, mas sim para que ele contribua e faça jus a essa origem de amor e generosidade, lutando para que as sociedades do mundo se tornem melhores, essencialmente boas; para que ele se torne merecedor do mundo.
Mais do que ser cantada pelos trovadores, pelos poetas e pelos românticos, a mulher deve, acima de tudo, ser respeitada, e esse respeito deve ser concretizado em ações governamentais, em leis que a protejam e a dignifiquem e criem condições para que ela lute para reverter a sua situação de explorada em todos os sentidos, pelas sociedades patriarcais.
Porém, não apenas os governos, mas cada cidadão, cada homem e cada pessoa deve tratá-la dignamente, não apenas com floreios, com versos e rimas, mas com gestos simples, com delicadeza e companheirismo, resgatando no cotidiano a gentileza sempre tão urgente no mundo e na vida de cada um e combatendo com firmeza e rigor toda forma de brutalidade e de exploração., ensinando a cada homem que o companheirismo é o princípio de tudo.
A brutalidade é a face mais terrível das sociedades nas quais prevaleçam qualquer forma de exploração, e numa sociedade em que a mulher é brutalizada ou apenas desrespeitada, o progresso entre as relações humanas estará sempre defasado e deteriorado.
Um homem não pode jamais se esquecer de que já foi menino, e precisa compreender que o verdadeiro guerreiro é justo, e que a sua grandeza e riqueza de alma floresce e cresce na delicadeza que só o companheirismo pode proporcional.

MARCIANO VASQUES



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