segunda-feira, 24 de março de 2014

MOVIMENTOS DE UMA VIDA — 1

MOVIMENTOS DE UMA VIDA — 1

Em Pinheiros, na pequena sala do jornal MOVIMENTO, semanário de resistência publicado entre 1975 e 1981, estava eu ao lado de  cartunistas numa animada conversa  repleta de risos, enquanto cada qual lia a sua matéria e esboçava os seus desenhos, as suas ilustrações.
Cada esboço feito à lápis era enviado a Brasília, para os censores, que os devolvia com o carimbo de  aprovado ou proibido.
Tive um desenho aprovado. Um índio batendo continência. O general Ernesto Geisel visitava a Amazônia e esbocei com o lápis o índio. Deu pra disfarçar o gesto da continência ou sempre fui péssimo em desenho, principalmente desenhar mãos. Porém, a ilustração foi aprovada. Isso era motivo de comemoração. O que tinha que fazer a seguir era puxar da caneta de nanquim e fazer o desenho de vez.
Ao portão passou por mim um grupo de jovens. Entre eles, uma psicanalista. Lembro-me bem da sua risada, da sua jovial alegria naquela tarde com o seu grupo de amigos.

Pelas ruas de Pinheiros segui  para a distante  Itaquera, Como eu estava feliz  naquela tarde! Logo estaria nas bancas um índio batendo continência para um general. E nas páginas de um jornal tão importante. 

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