sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

CONVERSA NATALINA

—Yupiiii!
—Rospo? Que alegria é esta? Já sei: É sexta-feira. Ninguém é de ninguém! Isso o deixa bem eufórico, não é?
—Sapabela, estou feliz também por outras coisas, outras descobertas.
—Diga, meu querido. Já sou um brinde ao seu dizer.
—Devo muito à Rede Social.
—Ao Facebook?
—Pois é, menina.
—Estou curiosa.
—Sempre está, Sapabela. Por isso é especial.
—Sou especial não, meu querido, sou apenas a alegria de ser Sapabela. Um ano se passou e não mudei, apenas acrescentei ao meu Ser; acredito que termino 2011 mais aperfeiçoada, e aprendi muito. Cada aprendizado trouxe-me redobrada alegria. Sinto-me a própria festa de ser. Pena não poder rolar na grama, nem abraçar todas as crianças, não afagar todos os cães: pena não poder realizar tantas coisas, como ter o dom de fazer nevar algodão doce nos telhados. Mas estou melhor, sou a mesma, com meus vestidinhos, minha generosidade e meu respeito ao intelecto...
—É isso, Sapabela! Sua forma de ser e a crença na alegria ilustram as minhas descobertas e o meu agradecimento pelo tanto que a Rede me trouxe. Das coisas que posso dizer, uma delas é ter descoberto que existem muitos sapos e sapas com a alma aberta, o coração em expansão, na alegria e na felicidade de ser sincero, mas, também, existe ainda muita arrogância, e pior, a arrogância intelectual, a mais maléfica, por ser articulada em sutileza. Perigosa pois pode abalar os fracos.
—Rospo, meu querido, quer mesmo falar sobre isso? É Natal!
—Por isso mesmo. Natal antecipa a última noite, a passagem do ano. Quando menino, fui certa vez acordado à meia noite pelo meu pai aos berros festivos dele que sempre enchiam a casa, naquele momento a dizer: "Vem, Rospinho! Vem ver o Ano Novo passando. Corra!"—E corri mesmo, saltei da cama e sonolento estava no quintal para ver os Anos passando naquele momento de fogos e abraços. A vizinhança correndo, um entrando no quintal do outro, depois todos indo para a rua. Eu olhava para o alto e procurava entre os astros o Ano Novo chegando...
—Fez certo, Rospo! Eles se encontram entre os astros, onde as translações se sucedem. Fale da sua tal descoberta da arrogância intelectual, se ainda quiser.
—Sim, ela, como todas as arrogâncias, pode abalar os fracos e até amizades que eram tidas como fortes e seguras. Lidei com isso, e acredite, fiquei mais forte —em mim. Parece confuso; só impressão.
—Pode ser mais claro?
—Naturalmente que sim. Apaguei vestígios de arrogância. Paguei um preço alto, mas mantive a serenidade da coerência ética que me moveu durante o ano. Se por um lado conheci a fúria e o desequilíbrio que surgem quando você permanece no firme propósito de enfrentar a arrogância, por outro, como disse, conheci sapos e sapas extraordinários. Isso fez o meu ano ser o mais bonito dos últimos tempos.
—Também andou fugindo do "amor", não é, meu amigo?
—Sapos se encantam e se conquistam.
—Sei disso.
—Então, se você vacilar se apaixona.
—Isso é maravilhoso!
—Com certeza. Todavia é preciso estar preparado para isso. E não estou.
—Não exagere, Rospo. Para mim a vida é apaixonante.
—Para mim também, Sapabela. Tê-la como amiga é um presente que jamais quero perder.
—Fique em paz. Sapabela aprendeu algo na vida que se tornou o seu maior tesouro, a sua maior fortaleza: a sinceridade e a fidelidade aos amigos, às amizades, todas. Isso levo comigo para 2012. Não tenho um só interesse pelo que não é sincero, Rospo. Só o autêntico me cativa.
—Verdade, meu bem. Autenticidade, sinceridade, sempre. E viver sem uma só gota de temor.
—Gota só de licor, de orvalho da manhã...
—Sem uma só gota de temor. Eis a chave da vida, penso.
—Que a arrogância causa um estrago, causa!
—Vou revelar algo, Sapabela. Só causa em quem não tiver firmeza. Nos outros casos, em que prevalecem a sinceridade e os princípios, acredite, os prejuízos são benéficos, são reveladores de que às vezes um sorriso pode ser apenas um simulacro, uma simulação, não se sustenta diante das contradições nem dos confrontos consigo.
—Rospo, complexo para quem já está na festa polar.
—Muitos questionam e criticam essa coisa de neve e os símbolos natalinos, inclusive o Papai Noel, que deveria aqui entre nós aparecer sempre apenas de camiseta e bermuda por estarmos no verão num país tropical, e que essa roupa vermelha tão felpuda, nada tem a ver. O coitado deve sofrer por aqui. Já anda confuso e perplexo por ter que entregar aos filhos "que foram bonzinhos" durante o ano tanta tecnologia...
—Bem danado, você, não é, Rospo?
—Sabe, Sapabela. Natal é magia. Encantamento no coração da criança. Magia tem que ser preservada a qualquer custo, com neve e tudo.  Papai Noel ser um símbolo adotado e cultivado pelo capitalismo, não importa para o sapinho. A figura mítica deve sobreviver através dos tempos. O velhinho que leva os presentes para os pequenos só faz isso porque ao envelhecer compreendeu que o coração de uma criança é o mesmo através dos tempos.
—Rospo, e as frutas natalinas? São secas? Avelãs, nozes, não combinam com o verão.
—Quem disse que é verão no Natal? Ainda saberemos que o Natal é um dia que a nenhum outro se compara;  nele estão todas as estações. Pode chover, nevar, fazer sol. Em cada coração será sempre apenas Natal.
—Ele está se expandido. Para muitos não é mais apenas uma festa religiosa.
—Maravilhoso, Sapabela! Os poetas que clamaram pelo seu manto descendo sobre a face da Terra....
—Rospo, a Terra agora só tem Face e não face.
—Sapabela, sem brincadeiras. Os poetas do mundo, de todos os tempos: Drummond, Arthur Rimbaud, Cecília, Florbela Espanca, Roberto Piva, Ferreira Gullar, todos e todos e todos: cada poeta sempre simbolizou o anúncio do Natal de universal expansão. Ultrapassando as religiões a abraçando a todos os povos.
—Ainda é um sonho, Rospo.
—Um sonho que se insinua.
—Rospo, sei que deve muito à Rede por outras coisas também, não é?
—Sim, mas hoje, com certeza, estamos todos indo para a outra rede. A dos sapos que se encontram ao vivo, para o grande abraço composto de mil abraços. Viva o Natal!
—Ainda é sexta, Rospo!
—Por isso mesmo, afinal o Natal é de todos e na sexta já se quer fazer presente. Tem a impaciência da criança. Criança nenhuma no planeta perde tempo, ainda não aprendeu que o tempo pode ser desperdiçado. Todos os povos: assim é o Natal. Por isso o sonho que se insinua já adentra milhões de corações.
 —Rospo?
—Sim?
—Uma curiosidade: Para que entrou na Rede?
—Para encontrar a Poesia, a Literatura Infantil, a Literatura e as Artes. Com elas, as amizades sinceras, puras e transparentes.


HISTÓRIAS DO ROSPO 2011 — 744
Marciano Vasques

Um comentário:

  1. Papai Noel é uma figura mítica,assim como todo o simbolismo da cores vermelho e verde, faz parte da magia do Natal. A decoração do Chopping este ano aqui para mim foi um desastre.Imagine que fizeram tudo com dourado, até o Papai Noel (um horror) vestido de dourado. Perdeu todo o encanto e a alma do Natal, obra de decoradores sem sensibilidade ou algo assim. Meu querido amigo Marciano, quero te desejar o mais lindo e encantado NATAL que ele tenha o Brilho e a LUZ DA ESTRELA DE BELÉM!
    Ana

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