terça-feira, 16 de julho de 2013

A FLOR PRINCESINHA

—Sapabela! Uau! Ganhei a noite!
—Nem cheguei, amigo!
—Mas estás aqui, com todo o querido teu jeito. Tua companhia me faz bem, e se danças aperfeiçoa a minha vida, se sorris, também: ao sorrir acendes as faíscas do esmerilhar de minha alma, e o que era apenas um fiapo de luz torna-se o fulgor de mil lanternas azuladas...

—Não falei que junho continua?
—O que disse?
—Nada, apenas que sinto que estás romântico hoje...
—Quisera bordões bordados em nossa conversa a dizerem que tu és a amizade que alumia minha existência... Por ti bebo os mais puros versos, os enlouquecidos de paixões... Eu compartilho verbos alucinados de desejo, as palavras tremeluzentes, sujas das indecisões dos amantes que não mais suportam a falta preciosa, e compartilho com fúria os amores dos poetas solitários da cidade. E trago-te.
—Podes tragar, beber... Podes até, se quiser, exagerar, o que sempre desponta no romantismo. Mas, naturalmente o importante é não perder a elegância, ou, em última instância, a leveza. Todavia, meu querido, pretendes manter a segunda pessoa até o fim?
—É a Metalinguagem! Viva!
—Rospo, você me diverte.
—E tu me aperfeiçoa. Assim devem ser as amigas...
—Rospo, estou feliz também. Coisas boas estão acontecendo, meu querido.
—Não ponha na Rede ainda, deixe acontecer primeiro.
—Querido amigo, não tenho Facebook!
—Não tem? Sapabela! Você não tem? Está fora do mundo? É um caso raro de deslocamento da realidade! Raridade no brejo: Uma sapa sem Facebook! Como consegue viver fora da normalidade, querida?
—Voltou pra terceira pessoa. Mas, diga, o que está acontecendo com você?
—Gostou da minha performance de cartum?
—Admirável !, gostei. Porém, Rospo, vamos falar sério. Sinto um orgulho gigantesco de tê-lo como amigo. Por isso apenas a vida já vale a pena. Veja, lá está ela!, um esplendor de luzes: A padaria Magnólia!
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Esse entusiasmo todo é por causa da padaria?
—Não, por causa do licor de anis.
—Danado! Isso vem depois...
—Depois do cinema?
—Depois!
—Depois do teatro?
—Depois!
—Nossa! Quantos depois!
—Engano, meu bem. Nesse caso o depois é apenas figurativo, uma maneira de se dizer, de se enfeitar, ou de aperfeiçoar o momento do licor.
—Esse licor de anis está ficando explícito, não é?
—Rospo, o que sei é que um sapo e uma sapa, ao se tornarem amigos, participam da mais bela de todas as edificações...
—Sim?
—O amor chamado Amizade.
—Belo nome, belo nome.
—E sabe o que é preciso para que essa amizade floresça?
—Diga!
—Vida em retidão, e sinceridade. Eis a flor princesinha de todo o relacionamento; Sinceridade. Vai nessa?
—Querida! Já sou alicerce desde sempre.
—Vamos entrar?
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

ROSPO 2013 — 882
Marciano Vasques

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