segunda-feira, 15 de julho de 2013

NA PADARIA MAGNÓLIA

—Sapabela! Assim Lunes fica mais bonita. 
—Rospo, meu amigo querido! Vontade louca de conversar... conversar é conservar o melhor da vida. E agora temos uma padaria nova, a Magnólia. Vamos?
—Só se for agora.
—Licor de anis!...
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—"Falei porque eu quis!"
—Sapabela, tem um conto novo? Um bom trançado pra nós?
—Rospo, acredita que os sapos, um sapo e uma sapa, só podem dar certo, se forem iguais?
—Sim, minha querida, Igual não significa os mesmos gostos nas coisas simples da vida. A Sapa pode não gostar de certas cores, assim como o sapo...
—O que significa então, "ser igual"?
—Ter o mesmo olhar para com  o mundo, o mesmo sentido, as almas devem trafegar na mesma direção.
—Exemplifique.
—Um sapo e uma sapa jamais conseguiriam conviver sendo diferentes. Vou sim exemplificar: Um sapo que jamais colocaria um cão numa corrente, como viveria com uma sapa que considera normal manter um amigo acorrentado? Ou um cantor engaiolado?
—Sim, passarinho na gaiola, cão acorrentado... Que mais?
—Ser iguais, no caso, ainda esmiuçando, significa que cada um assegura a sua individualidade, a sua diferença, pois cada Ser, cada sapo é diferente do outro, cada Sapa é única, porém a igualdade reside na convergência do olhar para as coisas da vida, reside na forma como o olhar da alma se manifesta diante de tudo, a igualdade está no olhar. Cada um é diferente, pois cada um é um manancial de riquezas, de acúmulos, de histórias... Mas são iguais com relação ao movimento do mundo... Não pode imaginar um sapo que luta por justiça convivendo com uma sapa corrupta...Está clareando, Sapabela?
—Ficou bobo, Rospo? Para mim está claro desde o princípio... Mas, quando se diz que os gostos são diferentes, isso é relativo.
—Eis uma Puc-expressão.
—Como é?
—Nada, prossiga.
—A música, se a preferência de um for uma música alienada, e a do outro uma música que eleva, com sua letras, então, o casal não combina. Isto é, tudo está na vida, e os detalhes são preciosos, por mais simples.
—Quem cuida de detalhes é Rei.
—O exemplos são tantos, não é, Rospo?
—Um tem uma crença religiosa, outro, uma filosófica...
—São oponentes mentais?
—Fica para o leitor.
—É ela? Adoro!
—Ela, quem, amiga? A Magnólia?
—A metalinguagem.
—Também gosto. Mas, prosseguindo, neste lindo espaço enluarado...
—Sim?
—Veja só: toda militância humanista é uma militância política. "É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar"... A vida é política. Viver é um ato político. Porém, veja que um sapo e uma sapa, quando um é um militante partidário convicto e exagerado, e o outro não, não dará certo. A infelicidade sempre estará de tocaia... o riso farto e generoso estará algemado no silêncio inconfidente.
—Prossiga.
—As diferenças se manifestam subterraneamente na alma, de forma camuflada até, mas, as diferenças nas ações causam o alastramento dos conflitos, e o reducionismo dialógico. Só há diálogo na igualdade, e a igualdade só se manifesta no respeito às diferenças de cada indivíduo.
—Assim vou pirar. 
—Nada, nada. Todas as diferenças precisam ser respeitadas... Veja que o Sol da África em tempos remotos trouxe a pele escura. E através de gerações, essa se tornou a bela cor. É a beleza consolidada. Que coisa mais linda ser negro, não é?
—Mas sofreram e ainda sofrem...
—O racismo, o preconceito de cor é a coisa mais estúpida da humanidade do sapo. Haverá algo mais estúpido? Haverá estupidez maior? Que pensamento pode ser dotado de tanta brutalidade? Essa é a estupidez medonha... É base, a raiz dos mais vigorantes pensamentos totalitários.
—Só pode ter uma concorrente, Rospo!
—Sim?
—Só há uma criatura asquerosa, capaz de ser tão estúpida quanto o racismo: é a Indiferença.
Rospo, toda omissão é extramente perigosa. E a indiferença nos assombra. Mas, vamos em frente. E que os sapos e as sapas sejam felizes.
—O princípio primordial é a vida em retidão.
—Só quem vive em retidão merece gozar a vida...
—Falar em gozar, vamos ao licor de anis? Veja que a Magnólia acabou de chegar!
—Que linda! Quantas luzes! Que alegria! Magnólia, eu a amo!
—Sapabela?
—Sim?
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

ROSPO 2013 — 881
Marciano Vasques



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pesquisar neste blog