sexta-feira, 2 de abril de 2010

O PASSEIO DOS CAVALHEIROS





 O PASSEIO DOS CAVALHEIROS



Ousadas estrelas aparecem no manto azul da noite de 02 de  de abril. As luzes da cidade – luzes cidadãs - repousam sonolentas sobre a paisagem avistada do viaduto do Chá. 

Poucas almas incomodam a cidade com seus passos apressados que retornam para lugares. Desaparecem engolidas pelos orifícios de concreto do Metrô.
Um estranho círculo de luz surge na profusão instantânea de cores circulares que se desfazem sobre a visão do shopping Light e do Teatro Municipal.

Numa das calçadas do viaduto passeia o solitário vulto despejado pelo círculo.


O homem de sobrancelhas densas e bigode raro olha ternamente para a cidade que não é a mesma. Como faz anualmente, relembra escolas de madeira, cartas que escrevia para crianças distantes e a sua aventura emocionante. Um feixe de luz despenca suavemente e diante dele aparece outro homem. O sujeito se aproxima:

- Como vai? Estava ansioso pelo nosso encontro.

E tem início um fecundo diálogo entre dois cavalheiros, ambos de paletós desatualizados. Falam de tudo. Um discorre sobre a infância pobre, de dificuldade e as aventuras escolares, quando era zombado pelos colegas por causa da sua feiúra e do seu jeito insistentemente tímido e solitário.

O outro fala, consternado, do seu desgosto com a gente grande e da emoção ao ver pela primeira vez os queridos personagens impressos no papel.
Conferem que jamais foram distantes, embora um tenha sido dinamarquês e o outro tenha nascido e crescido na tímida Taubaté, onde em tarde ensolaradas, chuvas anunciadas em mormaços e trovoadas que ralhavam, brincava com brinquedos toscos de chuchu e sabugos ou se empoeirava de emoções na biblioteca do avô.
O de Taubaté reconforta-se com súbita felicidade ao reparar que continua no coração de infinitas crianças, que viajam freqüentemente nas páginas do seu sítio, e se lambuzam com: a aritmética, a gramática, a história das invenções e a história do mundo, e crescem com sábios convencidos e com velhinhas contadoras de histórias. O da Dinamarca, também encharcado de felicidade constata que o seu patinho feio e o seu soldadinho de chumbo continuam falando e levando suas mensagens de perseverança, de persistência e de sabedoria aos milhares de crianças de um mundo sem fronteiras.
Um fiapo lunar de vento desfaz a lágrima disfarçada pelo homem de Taubaté, quando o outro afirma com leveza:
- Mas a sua voz continua! Você continua falando através da sua boneca de pano. Ela é você.

Emília - Personagem de Monteiro Lobato - Reprodução Google.

Um sorriso esboçado sela a concordância, mas a gentileza de amigos assim, reparte imediatamente o presente. E afirma:

- Sim, o senhor, meu caro, é o patinho, e continua com a sua voz a ensinar as crianças de todos os credos, raças e lugares, e idades, que não devemos ter nenhum tipo de preconceito dentro do coração.
O diálogo é interrompido quando o passeio atinge a calçada da Biblioteca de Mario de Andrade, o patrono poeta da cidade. A luz que os acompanhava começa a se dissolver e desaparece lentamente.

Biblioteca Mario de Andrade - Reprodução Google

Com a agonia das luzes eles se vão, prometendo se encontrar no próximo ano. O de Taubaté explica o mistério dos reencontros.
- Sempre que nessa noite do ano, pelo menos uma criança com insônia abre um livro meu, vou tomando forma e na primeira página lida, inicio o meu passeio e enquanto pelo menos uma criança permanecer acordada lendo, estarei caminhando pelas ladeiras e calçadas desta capital.

- O mesmo se dá comigo!- conta o dinamarquês.

Os dois se despedem porque afinal as duas últimas crianças fecharam os seus livros e foram dormir. Talvez uma estivesse lendo O Patinho Feio 
Cisne- Reprodução Google

e a outra, A Menina do Nariz Arrebitado.

  Os cavalheiros se despedem.

Quem tem a felicidade de reparar o círculo de luz e cores se desfazendo em nódoas jamais poderá imaginar o que de fato acontece, ou talvez possa, pois afinal a imaginação pode tudo, e ela não é propriedade apenas das crianças.


 MARCIANO VASQUES

MINOTAURO









MINOTAURO

Teseu abate o Minotauro - Museu de Villa Albani,Roma

Minos, fruto do ventre de Europa, que fora raptada por Zeus quando caminhava distraída na praia.
Ao ser abandonada pelo amante divino, Europa se casou com um mortal, o rei de Creta, que criou Minos como seu legítimo filho.

Assim, o jovem teve dois pais. Do segundo recebeu, além de amor e educação, a herança. Tornou-se rei.

Além de governar os férteis vales de Creta, tomou a bela e encantadora Pasífae como esposa.

Radiante, quis impressionar a todos, e como um tolo, começou a espalhar que teria os seus desejos atendidos pelos deuses. Ingenuamente pretensioso, fez com que suas palavras fossem com as ondas do mar.

Isso aguçou os ouvidos de Poseidon.

O rei cretense construiu um altar na areia da praia para Poseidon e diariamente orava.

Na oração um costume se impunha: fazia um pedido.

A oração tornava-se assim, não um ato puro de louvor, mas de troca, de barganhas, uma forma de se obter favores divinos. 

Minos orava não para louvar ao deus, mas para conseguir algo, e tanto orou que seu pedido foi atendido: um belo touro que sacrificaria em honra ao deus.


Com a perspectiva da homenagem, com tanta veemência prometida, o vaidoso Poseidon, enviou, das profundezas do mar um touro branco.

Das espumas das águas emergiu o belo animal que foi caminhando em direção à praia.

Um belo animal que impressionou os olhos puros de Minos, que não podia se dar conta de que era semelhante ao magnífico touro branco que um dia apareceu na praia e se aproximou de sua mãe.

Fora assim, transformado num belo touro branco, que o sedutor Zeus quis um dia conquistar Europa.

Minos foi enredado no labirinto do seu coração e, prisioneiro das complexas artimanhas da mente embevecida pelo orgulho, trapaceou com o deus.


Matou um touro do seu próprio rebanho, na frágil ilusão de que conseguiria enganar Poseidon e sair ileso.

Guardou o touro branco para si, estabelecendo com esse gesto estúpido a semente da tragédia em sua vida.

Pasífae tentou inutilmente adverti-lo de que deveria agir com retidão, que agindo da maneira como agia, só poderia trazer conseqüências desagradáveis para a vida do casal.

Mas não era seu o hábito de ouvir a mulher.


Assim como os deuses assumem a forma de animais para seduzir suas amadas mortais, Pasífae tentava bravamente assumir a forma da consciência de Minos, mas ele não permitiu.

Fechando com enormes portões as entradas da alma para as sensatas palavras da esposa, consumiu a loucura.


Os minóicos viviam a vida placidamente em seus afazeres diários, mas ele, o rei, não teria mais paz.

Os deuses não admitiram a sua atitude.

A vingança foi terrível.


Afrodite convocada, serviu aos propósitos vingativos.

Embora fosse a deusa do amor, de vez em quando promovia tragédias, dor e sofrimento.

A rima do amor talvez estivesse nascendo com ela, naqueles tempos.


Fez, com o seu poder, que a bondosa companheira de Minos se apaixonasse pelo belo touro.

Náusea, asco, horror, tudo isso desceu sobre Pasífae, como uma avalanche, mas, quem resiste ao poder de Afrodite?

Acuada pela irresistível paixão pelo animal, Pasífae ficou desesperada.

Seus lábios vermelhos ficaram úmidos de desejo e em estado de beijos, seu corpo teceu arrepios, sua condição de mulher desabrochou e ela se abriu para o amor.

Inútil fugir ao que sentia.

Dominada pelo desejo, enlouquecida, caiu em prantos, mas o desejo que escraviza também fornece a sua própria seiva.


Confidenciou com o fiel amigo de Minos, Dédalo, o incomparável artesão, o mais conceituado inventor da ilha de Creta.

Desde que chegou fugindo de Atenas, onde protagonizara uma tragédia ocasionada pelo seu doentio ciúme, Dédalo passou a servir a Minos, e muito contribuiu para o progresso da ilha com as suas invenções, que sempre traduziram a sua genialidade, tão imensa como a instabilidade do seu ser.


Ele construiu uma vaca de madeira, oca.

Dentro da falsa vaca, Pasífae, escondida, fazia o vergonhoso amor com o amante, o touro branco.

Contrariando a natureza, Pasífae, escondida dentro da engenhosa invenção de Dédalo, podia dar seqüência ao seu desejo anormal, do qual não podia fugir e contra o qual não podia lutar.

O touro branco diariamente a visitava, e juntos, os amantes se entregavam, saciando o furioso desejo.


Mas os deuses nunca estão satisfeitos!

O corpo de Pasífae atendeu ao capricho divino. Ela deu à luz a uma criatura monstruosa.

Seu filho, metade homem, metade touro.

“Minotauro. Esse será o seu nome!” - disse entre lágrimas, com o coração cambaleando entre o nojo, a repulsa, o horror e a capacidade infinita de doação, que caracteriza o amor materno.

Das profundezas do seu coração, vinha a exclamação mais bela que já pronunciara até então, em pensamento e vontade: -“Seja você como for, o importante é que é meu filho! Venha como vier, mas seja meu!”

Ninguém presenciou a cena mais comovente da antiguidade, a mãe abraçando forte junto ao seu peito, o filho ainda ensangüentado do nascimento. E entre as lágrimas horrorizadas brotou o sorriso materno.


Minos caiu em desespero com a brutalidade do castigo de Pasífae.

A sua dor aumentou intensamente ao compreender que ele fora o culpado dessa tragédia. Esse foi o primeiro impedimento em sua alma para que matasse imediatamente o enteado.

Procurou o oráculo que o aconselhou a esconder a sua vergonhosa realidade.

Minos acolheu o conselho do Oráculo, e passou a mastigar em sua alma a forma de esconder a monstruosa criatura.

Teria que ser um esconderijo perfeito, impenetrável. Mas, como?...

Foi ao artesão e pediu-lhe que construisse o esconderijo perfeito para o filho de sua mulher. Algo que fosse absolutamente seguro, para que o Minotauro não pudesse escapar e nem ser visto pelos habitantes da ilha.

Dédalo ouviu pacientemente e sentiu um certo regozijo por estar pela segunda vez atendendo a um capricho da família real.

Nem por um átimo de segundo sentiu remorso por ter sido cúmplice do amor bestializado de Pasífae.

Os dias seguintes os viveu pensando incansavelmente na sua invenção.


Olhava todas as tardes para o incrível palácio de Knossos e se punha a pensar, até que adormecia entre os apetrechos da sua imensa oficina. Teria que ser algo diferente de tudo que já tivesse construído e tudo que já havia visto.

Então, sua alma artesã foi tomada por uma súbita luz: Labirinto!

Dia e noite, sem trégua, Dédalo trabalhou na sua invenção. Ninguém jamais o vira tão envolvido na construção de um projeto.

Trabalhou com a ajuda preciosa de centenas de trabalhadores, que, como escravos, carregaram as pedras até o local, sem que um deles sequer pudesse jamais imaginar qual o objetivo de tal construção.

Finalmente o labirinto estava construído.


Ariadne, a filha de Minos, sem compreender o que significava aquela movimentação, perguntava aos pais, sem obter respostas. Mas, dizem, uma mulher jamais desiste, e passou a viver para descobrir o que significava o labirinto.
Perguntava à mãe, nas conversas diárias, sobre o propósito de uma construção tão imensa.

A mãe, amiga e confidente, que dividia com Ariadne a dor da existência do Minotauro, não tinha também a resposta.

Sugeria que pudesse ser apenas vaidade de Minos ou mania de grandeza.

Ariadne olhava para ela, olhava para o meio irmão, para o pai, para o labirinto. Mas o segredo estava guardado de tal forma que parecia que jamais um sopro sequer lhe traria a resposta.

O rei no seu palácio de Knossos olhava admirado e satisfeito a construção do labirinto.

Ficava bêbado de emoção e satisfação diante da monumental obra de Dédalo.


Enquanto isso, Pasífae alimentava e cuidava do filho monstruoso, sem saber que, ao se separar do leite materno, o Minotauro seria vitimado por uma nova maldição. Para alimentar a sua fome, só conseguiria comer carne humana.

O rei Minos, colocou no centro do labirinto o monstro.

- Por que não o mataste? – perguntou Dédalo.

- Não posso! Não posso! Não posso...

Atormentado, se afastou em silêncio.

Não permitiu que Dédalo reparasse em seu rosto a sombra do desgosto e as lágrimas de profunda tristeza.

Anos após o nascimento do filho de Pasífae, com a morte do irmão Androgeu, Minos declara guerra a Atenas, para vingá-lo.


Vencedor, decretou que os atenienses enviassem, como tributo, a cada nove anos, sete moços e sete virgens para servirem de alimento ao Minotauro, e assim, aplacar a fome do monstro.

O rei Egeu havia participado da morte de seu irmão. O povo de Atenas pagaria então pelo erro do seu soberano.

Um homem portador de um segredo imenso, não podia confiar em ninguém e o rei Minos encerrou Dédalo e seu filho Ícaro no labirinto.
Ítalo tenta fugir do labirinto - pintura de Charles-Paul Landom
A cada nove anos, os atenienses em pranto e luto iam ao porto para se despedirem dos quatorze jovens que partiam para o sacrifício.

Ninguém sabia da verdade sobre o Minotauro, apenas que era um horrível monstro aprisionado no labirinto, que se alimentava de carne humana.

A embarcação hasteava em seu mastro uma vela preta.

No porto, lágrimas, dor e incompreensão.

O rei Egeu, por duas vezes sacrificou os jovens atenienses, causando tristeza.

Então, na terceira remessa de jovens, seu filho adotivo, um formoso rapaz, com os traços físicos de Poseidon, segundo alguns comentários, apresentou–se como voluntário para matar o Minotauro.

Egeu concordou.

Conhecia mais do que ninguém a coragem e a determinação de Teseu, naqueles dias aclamado e festejado como herói e única esperança em Atenas, passando a simbolizar entre os jovens a força da juventude.

Egeu lhe fala do significado das velas negras e decide que o navio dessa vez, simbolizando a esperança, levaria também velas brancas, que Teseu deveria içar quando retornasse, caso voltasse como vencedor em seu empreendimento.

O navio partiu.

Dessa vez, além de lágrimas e dor, a esperança também flutuou nos corações do porto.

Em Creta, Teseu anunciou-se como filho de Poseidon.

Para prová-lo, mergulhou no mar.


Um grupo de delfins o levou até o reino de Anfitrite, deusa do mar, que lhe ofertou um anel e uma coroa de flores.

Minos, que estranhara a chegada da embarcação com velas brancas e depois zombara de Teseu, ficou surpreso com o desaparecimento do jovem nas águas, mas, com o seu retorno portando os presentes da divindade das profundezas marítimas, prontamente se convenceu da veracidade da afirmação do estrangeiro.

- Peço-lhe a autorização para entrar no labirinto.

- Está bem, você é o filho de Poseidon. Pode entrar. Se conseguir o que promete, Atenas estará livre do tributo e nenhum jovem mais será sacrificado. Se falhar, que o Minotauro lhe beba o sangue!

Aquela conversa estava sendo ouvida por uma jovem de olhos curiosos que mirava com uma atenção diferente a face do rapaz, enquanto em seu próprio rosto, a pele subitamente rosada, e o brilho elegante no olhar revelava o surgimento de uma paixão pelo estranho.


Ariadne sorriu o seu sorriso mais puro e sua voz se abriu em doçura enquanto as palavras, como flores, procuravam cativar o jovem na aproximação que nascia.

- Eu posso ajudá-lo!

Qualquer homem ficaria perturbado pela sonoridade que escorria dos lábios vermelhos de Ariadne, e ela caiu em felicidade e interpretou como aconchego a demonstração de Teseu de que fora atingido pela perturbação provocada pela sua voz.

Foi o suficiente para ela acreditar numa correspondência de sentimentos e segredou-lhe quase num sussurro imperceptível a ajuda que tinha para oferecer.


Talvez Teseu estivesse realmente interessado em ouvi-la e levasse a sério as suas palavras, talvez não, mas como aprendera com a esmerada educação dada pelo pai, a ser gentil, principalmente com uma mulher, permitiu que Ariadne falasse.

Ariadne por amor o ajudou dando-lhe um rolo de linha.

Teseu, um valente que não sabia amar ouviu a explicação da mulher e compreendeu que ela lhe fornecia a chave do labirinto.
- “Prenda o fio na entrada do labirinto e vá seguindo com ele até o centro. Quando voltar, vá enrolando a linha e então ela o guiará de volta!”

Assim fez Teseu.

Ao chegar ao centro ficou repugnado com a presença da criatura.

Matou-a após uma luta ferrenha. A força do monstro contra a habilidade de Teseu.

Quando saiu do labirinto, Ariadne o esperava.

Embarcaram com os jovens atenienses no navio.


Ela, radiante na felicidade que a ilusão costuma produzir. Ao olhar para os olhos de Teseu pensara encontrar os caminhos do seu coração.
Milhões de instantes entre cada frase, vividos ilusoriamente, buscando em cada gesto o amor que não havia, e vendo na vitória de Teseu o maior momento do amor inexistente, parte com ele.

Não compreende um só instante o quanto está só, e vê amor onde só há distâncias.

Teseu não a amava.

Ao passarem por uma ilha, abandonou-a covardemente. Permaneceram alguns dias na ilha antes de retomar a viagem e no dia da partida, esperou que ela adormecesse e se foi.

Os jovens, que por ele sentiam uma profunda admiração, diante desse gesto olharam para o seu rosto com decepção e tristeza.

O silêncio se instalou na viagem.

Não deve ter sido fácil para eles verem se esfarelar diante dos seus olhos o herói a quem deviam a vida. Que outra espécie de monstro vive dentro de um homem que engana a mulher que o ama? Teria sido essa a pergunta que os acompanhou na viagem?

Ficou tão empolgado por ter enganado a mulher que o ajudou, aquela que nele confiou cegamente, e foi por ele abandonada covardemente, tão empolgado ficou que esqueceu o trato que havia feito com o pai.

Esqueceu-se de içar as velas brancas e o navio chegou com as velas pretas.

O rei Egeu, desgostoso, atirou-se ao mar.


A sua morte chocou os atenienses. Um manto silencioso cobriu os corações.

Quando Ariadne soube da tragédia o seu coração transbordou-se de tristeza.

Dentre os sobreviventes salvos por Teseu, um deles, uma das virgens, olhando para o mar, chamou-o pela primeira vez pelo nome do seu rei.

A partir desse dia todos os atenienses passaram a chamar o mar de Mar Egeu.


O nome de Teseu ficou na memória afetiva do povo oscilando entre o herói e o traidor.

Alguns que gostam de interpretar tragédias e atitudes humanas, andaram dizendo que teria sido uma semente do Minotauro que, no suor da luta, transmitiu a Teseu o mal, que ele consolidou no abandono da boa Ariadne.

Foi apenas falta de amor.

 
 
MINOTAURO, recontado por Marciano Vasques


PRÊMIO JABUTI

PRÊMIO JABUTI - Inscrições Abertas


Estão abertas a inscrições para um novo Prêmio Jabuti.
Importante prêmio literário anual, que contempla diversas categorias.  

ESCRITOR VASQUES EM ATIBAIA



ESCRITOR VASQUES EM ATIBAIA

Professores durante a palestra de Marciano Vasques, 
realizada em 27 de Março de 2010, em Atibaia. 

CONVITE

ESCRITOR VASQUES EM ATIBAIA



ESCRITOR MARCIANO VASQUES EM ATIBAIA

 O escritor Marciano Vasques com participantes 
em Intervalo de sua palestra em Atibaia,
realizada em 27 de Março de 2010.



LANÇAMENTO NOOVHA AMÉRICA

VASQUES EM ATIBAIA


PALESTRA EM ATIBAIA

Marciano Vasques com professora em Intervalo da palestra realizada em Atibaia, em 27 de Março de 2010.

 

quinta-feira, 1 de abril de 2010

DIVULGAÇÃO CULTURAL - 1

PÉGASO




PÉGASO
 
Dânae corre, despreocupada, pelo campo florido, cabelos soltos, dourados, contracenando com o sol entardecido.
Crianças brincam como inflorescências, uma delas aponta para a moça e comenta: - Como é linda! O pai, Acrísio, a observa do alto do palácio. Queria um filho.

Foi ao oráculo. Não devia ter ido.

Voltou sobressaltado. O coração esmagado pela triste profecia oracular.

Ele não teria um filho homem e seu neto o mataria.

Retornou com as palavras do oráculo martelando em sua cabeça.

Estranhas varizes apareceram na região umbilical, 

Seu corpo cambaleante entrou no palácio.

Seus olhos quedaram num cansaço inatingível, ou melhor, tingido pelo pavor de uma profecia inaceitável pela sua mortal fragilidade. 

Acabou nesse dia o sono tranqüilo do velho rei de Argos.
Ao retornar do oráculo, voltou a observar a jovem filha entre os crisântemos amarelos. O que era amor e admiração, o que era orgulho e contemplação, virou ameaça.

Com a dor penetrando em cada sulco do rosto, tomou uma decisão.

Prendeu a filha numa torre alta.
No pensamento, um pedido de perdão, nos olhos lágrimas fugitivas que se estraçalhavam na brisa sufocada que percorria o frio corredor que os levava para a torre.

Para chegar até a torre, eles teriam que passar por um longo corredor e abrir várias portas de bronze, depois subir no escuro os degraus intermináveis de uma escada rústica e tortuosa.
O terror instalou o seu reino no coração do rei e mesclou-se ao remorso, mas a fortaleza do medo às vezes se torna insuperável.

Trancando a filha, o apavorado rei podia dormir em paz, mas não conseguia.
Quando pegava no sono, pela madrugada, ouvia uma voz fria e pesada, que inicialmente num sussurro, parecia vir de lugares distantes ou de outro mundo, dizendo: A profecia é inevitável! Ninguém engana os destinos do oráculo!

O rei tremia em seu leito, o suor invadia o seu rosto e ele se levantava agonizado pelo sono e pelo cansaço.
Olhava a escura torre e momentaneamente se sentia seguro.

Certa noite, sonolento, viu pelas aberturas do quarto uma queda de fios de ouro espalhando  as ramas sobre a copa de uma árvore. Uma visão maravilhosa, mas não se deu conta do que se tratava. Dormiu.

Dizem que enquanto a humanidade dorme, deuses sedutores costumam viajar em chuvas de ouro !
Dânae, de Ticiano

Zeus penetrou na torre.

Fecundada, Dânae engravidou.

Deu à luz a um filho, ao qual chamou de Perseu.

Acrísio quis matar a filha e o fruto do seu ventre. O medo sem freios estabelece a loucura.

Desistiu da idéia. A força de Zeus removeu o seu poder de decisão. A covardia já governava a vida do pobre homem.

Embora Zeus tivesse engravidado a sua filha, para o rei a sua ira era algo impensável.
Lançou Dânae com o filho ao mar, em uma pequena porém sólida embarcação, uma arca de madeira.

A arca enfrentou as procelas do mar, as revoltas aquáticas, e seguiu o seu caminho desconhecido.

A mãe agarrava o pequeno filho ao peito e implorava às espumas do mar: “O que será de nós? 

Erguia os olhos molhados e aflitos para as nuvens, mas só via a morte. 

Não compreendia porque morreria naquela imensidão.

O mar, em cada onda gigantesca manifestava a sua fome de vidas.

A mulher pediu ajuda a Zeus.
Com a suposta intervenção divina, o mar em vez de saciar a sua fome, se acalmou.

Misteriosamente, as águas se acalmaram e a arca chegou com o pequeno Perseu e a sua mãe à ilha de Serifos.

Mortalmente arrasada, a mulher, cansada, extenuada, sem forças, desfaleceu na areia com a indefesa criança.

Dormiu amamentando o filho.
Foram encontrados por um bondoso pescador chamado Dictis, ironicamente irmão do rei da ilha.

Mãe e filho viveram na nova terra.

O tempo passou.

Perseu já era um belo moço. Dânae, mesmo com todo o sofrimento, jamais perdeu a sua beleza natural.

Um dia, o rei da ilha, Polidectes, manifestou o seu desejo por Dânae.

Qualquer um que a observasse diariamente, por ela se apaixonaria.

Mas ela não o aceitou.

Um rei não se acostuma com recusas, porém a presença altiva de Perseu o desanimava de empreendimentos amorosos, e ele logo descartou qualquer tentativa contra a vontade de Dânae.

Mas Polidectes não nascera para ficar cultivando infrutiferamente um desejo.  A sua cobiça teria que apresentar resultados práticos.

Impedido do poder de investidas, começou a ficar atormentado.

Só havia uma saída.
Para conseguir o seu objetivo carnal o rei teria que se livrar de Perseu. O desejo parece enigmático, mas talvez seja apenas banhado pelas águas do egoísmo.

Polidectes ofereceu um banquete para todos os jovens da sua aldeia. 

Perseu abraçou a mãe antes de partir para o banquete. O coração da mulher, inexplicavelmente estremeceu.

Os convidados compareceram, cada qual com um presente, menos Perseu, que, sem recursos, não tinha nada para levar.

A maioria dos convidados oferecia ao rei um cavalo.

Perseu não tinha posses para adquirir um desses animais.

Sabia o quanto o cavalo era valorizado na ilha por ser muito apreciado pelo rei.

Como Perseu não tivesse nada para ofertar, o rei pediu algo inusitado:  “Traga-me a cabeça da Górgona Medusa!”

Todos ficaram espantados com o pedido de Polidectes. Os jovens se olharam perplexos, um frio percorreu o ambiente, atravessando a mesa e se instalando no coração de cada um.

Os olhares aflitos se dirigiram para Perseu.Todos pressentiram a tragédia que se aproximava.
Ninguém podia realizar tal coisa, o presente significava a morte de Perseu.

Por uma centelha de instante todos os convidados ficaram petrificados, mas era o pedido de um rei, portanto irrecusável.

Somente uma mulher se atreveu um dia a desconsiderar isso.
Quando soube, a mãe ficou angustiada. Como o filho poderia realizar tal tarefa?

O seu coração feminino, sempre atento, compreendeu a armadilha na qual o seu filho caiu. O pedido do rei simbolizava o presente impossível.
E o que estava por trás disso –refletiu- era o desejo imbatível do rei. A sua natureza de fibra, que ela transmitiu ao filho, incomodou o poder de Polidectes.

Porém, quando corria entre os jovens amarelos dos crisântemos, não aprendera a ceder.

As Górgonas eram terríveis.

Nas aldeias, em todas as ilhas, nos rios, nas florestas, em qualquer lugar onde habitasse um ser humano, só a menção da palavra Górgona trazia terror.

Diziam os povos que até os deuses temiam tais criaturas.
Descendentes de Gaia, filhas de Fórcis e Ceto, eram três irmãs monstruosas de horrível aspecto, longas cabeleiras compostas por serpentes.

Nos olhos o poder de petrificar qualquer criatura.

Bastava um mortal olhar para uma delas.

Habitavam no país das sombras.

Três irmãs, uma delas vulnerável à morte. Seu nome, Medusa. A rainha.
A mais temida. Seu sangue tinha poderes mágicos. Com uma gota dele podia envenenar ou ressuscitar alguém.

Contam as lendas que já havia matado muita gente e ressuscitado muitos mortos.

Segundo alguns relatos, na própria ilha de Polidectes, foram encontrados animais petrificados na beira do rio.

As próprias irmãs Esteno e Euríale a temiam.
Uma única serpente de sua medonha cabeleira devastava um exército.

Medusa era uma linda jovem que recebeu um castigo divino.

Quis superar em beleza a deusa Atena. E deusas são ciumentas!

Veja no que foi transformada a pobre.

Também contam que a deusa se sentiu ofendida porque Medusa usou o seu templo, um lugar sagrado, para fazer amor.
A única mortal das Górgonas desafiara em sua juventude uma deusa. Pagou caro por isso!

Perseu ficou só para pensar. Andou por entre os galhos, as rochas, olhou o mar, o céu, não encontrava uma saída.

Mas contou com uma ajuda inesperada.

Zeus!
Comovido com a situação do filho da sua aventura, o deus dos deuses enviou dois imortais para ajudá-lo.

Atena e Hermes, o mensageiro.

Cada qual desceu do Monte Olimpo e se dirigiu para a ilha de Serifos.

Atena emprestou a Perseu seu escudo, Hermes, uma foice.
Perseu foi orientado pela deusa para que desviasse o olhar da Górgona e olhasse apenas o seu reflexo no escudo. Assim ele escaparia da maldição e não seria petrificado.
Hermes indicou-lhe o local onde estaria a Ninfa do vento Norte.
Quando chegou até a estonteante Ninfa de longos cabelos azuis e transparentes vestidos de seda, esvoaçantes como o vento das florestas, recebeu como empréstimos sandálias aladas, uma rede e o capacete da invisibilidade usado por Hades, senhor do inferno, que muito contrariado, o acabou cedendo à delicada Ninfa.

Perseu, bronze de Benvenuto Cellini Instrumentalizado pelos deuses, o corajoso Perseu partiu.

Chegou ao local onde medusa dormia sobre uma enorme pilha de estátuas.

O valente Perseu reconheceu algumas das imagens petrificadas. Heróis que haviam desaparecidos.

Olhou para o reflexo de Medusa no escudo de Atena. Ficou impressionado com a enorme cabeça da criatura e ao mesmo tempo, por um átimo de segundo, penalizado pelo castigo que lhe fora imposto.

- “Terá mesmo sido uma linda jovem?” - chegou a questionar, mas o seu pensamento tinha que ser veloz e naquele momento não podia vacilar com indagações. 

Com um único golpe da foice arrancou a cabeça do monstro e imediatamente a jogou na rede.


Então do corpo dela saltou o maravilhoso Pégaso.

Perseu se encanta com o fantástico animal. E sente um súbito orgulho por tê-lo libertado.

Passou a carregar a cabeça de Medusa como um troféu. Com ela petrificaria os inimigos.

Ao voltar para casa, viu uma moça amarrada num rochedo beirando um lago. 

Aproxima-se e pergunta:

-Quem é você?

-Andrômeda.

A bela moça conta a sua história.


Enquanto a ouve, no coração de Perseu brota uma paixão.
-A sua mãe -conta Andrômeda- Cassiopéia, proclama-se mais bela que as ninfas.

Revoltado com esta declaração, Poseidon castiga os habitantes da região com uma inundação e um monstro marinho.

O seu pai fica sabendo, por intermédio de um oráculo, que a única forma de salvar a todos é oferecer Andrômeda para o monstro.

Após ouvi-la, Perseu aguarda a chegada do anoitecer. Enquanto espera, o seu olhar se perde nos mistérios do luar.

A noite está clara como nunca.

O seu pensamento vaga. Olha ternamente para a jovem aprisionada no rochedo: “Os pais costumam sacrificar suas filhas” -Pensa cabisbaixo. A sofrida moça adormece. Outro dia amanhece. A espera continua.

No final da tarde as águas do lago começam a borbulhar e os pássaros se afugentam.

O monstro aparece.

Perseu expõe a cabeça de Medusa e o petrifica.

Liberta Andrômeda.

Quando retorna à Grécia, está acompanhado de duas mulheres.
Uma delas é a sua mãe, transformada em escrava por não ter cedido ao rei. E que ele, Perseu, libertou da ilha de Polidectes, após transformá-lo em estátua. 

A outra, a esposa Andrômeda.

É recebido com festas.

Uma profecia do oráculo sempre se concretiza.

Um dia ele estava atirando um disco e sem querer atingiu Acrísio. Matou assim, acidentalmente, o avô.

Imediatamente se alastrou entre os povos que foi a vontade dos deuses, que estão sempre em comunhão com os oráculos.

O maravilhoso cavalo alado que fora entregue por Perseu para Atena quando foi fazer a devolução do escudo, agora é entregue pela deusa para Belerofonte, cuja missão era matar a Quimera.

Quimera:o temido monstro tri-corpóreo. Parte leão, parte bode, parte serpente.

O herói domou Pégaso com uma rédea fornecida por Atena.
Assim, montado no maravilhoso cavalo alado, com uma lança mata a monstruosa Quimera.

Todos temiam a horrível criatura, mas poucos acreditavam na sua existência.

Perseu realizou várias façanhas, a maior certamente foi ter matado a medusa. Para muitos o seu maior feito foi ter libertado Pégaso.

Independente da predileção de cada um, foi aclamado como herói e festejado em todas as regiões por onde passou.

Mas, continuou vivendo em sua simplicidade.

Belerofonte, ao contrário, tornou-se vaidoso e após ter realizado o extraordinário feito de destruir a Quimera, despertou a ira de Zeus.

Alguns acidentes, alguns acontecimentos, mesmo que pequenos, só podem significar uma intervenção divina, até mesmo a ferroada de uma vespa.

Belerofonte, vaidoso, julgou-se um deus e montado em seu alado, foi ao monte Olimpo, mas lá ninguém entra assim impunemente. 

Uma vespa ferroa Pégaso, que atira longe o seu montador, que se atreveu a querer ser deus e terminou a vida como mendigo.

Quem olhasse para o céu à noite, conheceria o poder imenso de Zeus.

O cavalo foi transformado em constelação, simbolizando que estava a serviço do deus, transportando os seus raios.

Quando o céu trovejava, cada relâmpago, diziam os pescadores e os homens da terra,trazia em suas faíscas a imagem veloz de Pégaso.

Muitos juraram que, olhando o céu relampejando viram o maravilhoso vulto branco.

Pastando serenamente nos lugares preferidos pelas musas, o maravilhoso alado vivia os seus dias.

Certa vez um coice seu fez nascer a fonte inspiradora dos poetas.

Uma noite, um artesão da palavra, olhando a constelação, perguntou a si mesmo: “Será que com aquele coice ele quis que o poeta fosse o primeiro a denunciar e a defender, com a sua arte, cada animal maltratado?”.

MARCIANO VASQUES

CARRETEL DE FÁBULAS



VEJA EM CASA AZUL DA LITERATURA INFANTIL:

CARRETEL DE FÁBULAS

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