segunda-feira, 25 de novembro de 2013

VEJA QUEM CHEGOU AQUI!


sábado, 31 de agosto de 2013

LIVROS DE MINHA VIDA!


ALUMIOU

Alumiou o sofredor.
Esse preto aqui
Que nasceu do amor
Que chorou
Até você fingir que ficava...

Tomei 
Na beira da estrada
Cuidando 
Essa longe
Flor que me aceite...

Rios de lágrimas não findam
Essa secura da alma
Se você já se foi...

Se morrer eu sob o luar
Você distante
Vai recolher mudez 
Mas vai tremer...

Nem sei foi que aprendi amar assim.
Cismava nos meus séculos de sofrimento
E  toda você enfeitada num sorriso chegou...

Não ficou...

Bem melhor se existisse apenas
A força de ter seu corpo

Pra que um homem assim tanto sofrer?

MARCIANO VASQUES

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

ESOTÉRICA FRAGILIDADE DA FORTALEZA

—Sapos e sapas são diferentes!
—Quem não sabe, Rospo!?
—Mas tem quem pense que sejam iguais. São bem diferentes. Entretanto, a igualdade está nos quereres, no desejo, no pensamento que pode convergir para a mesma visão de justiça e de necessidade da igualdade social. A diferença não interfere na igualdade.
—Rospo, sei o que está dizendo: socialmente a igualdade é um rogo de séculos e séculos amém, porém, tudo que é almejado só se consegue com luta, sempre foi assim. E as sapas conseguiram seus espaços na sociedade patriarcal com muito sofrimento e muita gana. Mas fale das diferenças que são "óbvias!"...
—O estímulo visual é predominante no sapo, não é?
—Eu não sou sapo, Rospo!
—Mas é uma sapa antenada.
—Estímulo visual? Ainda bem!
—Olhar para sapa não é apenas um hábito, digamos, cultural, é natureza.
—Claro, entendo. Só podia ser dessa forma, a sapa é bonita, linda, sempre. E não se esqueça de que a sapa também sabe olhar para o belo. Mas você está com algum motivo pra falar isso?
—Não exatamente. Só sei que desde que a bonitinha apareceu no planeta o sapo puxou os olhos. Pior foi a cantada do machismo. Aquela história do sexo frágil. Uma balela, não é? Faz parte do tal "acervo cultural"...
—Traduza-se como "acervo patriarcal"...
—Coisa mais antiga: confundir gostosura com fragilidade....
—Rospo! Como disse uma sapa: "Ocê é bobo ou quer um conto?"
—Conheço!
—Rospo, estou com saudades das tiras... O lápis de cor faz bem pra minha alma de jardineira.
—Metalinguagem.
—Rospo, por que esse assunto da sapa hoje?
—Não tem um motivo específico. Mas vamos combinar algo?
—Está combinado!
—Nem falei!
—Precisa, não é? Então diga.
—Algumas coisas são essenciais em nossa vida. Uma delas, o silêncio.
—Sim, o silêncio escolhido, o silêncio procurado. Esse silêncio é o necessitado.
Rospo, faz tanto tempo!...
—É mesmo, Sapabela?
—Seu bobão. Estou falando da Magnólia.
—É mesmo... E eu brincando com o ser brincante...
—A Magnólia e o licor de anis.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Aprendi por conta minha, nos arredores por onde andei, com minha alma de cigana, que há em mim uma fragilidade que é feita de fragmentos de fortalezas...E estou na Poesia, pois ela é de minha própria paixão, pela vida, que desde menininha aprendi a tecer.
—Meu anjo...
—Gostei, Rospo!
—Você será a eterna sedução da fragilidade esotérica da força lunar. Feliz o sapo que compreende que nessa fragilidade está a força mais sincera que move a vida, faz a vida ser um mundo.
—Rospo, chegamos, aqui é o meu portão.
—Portão, qual a sua rima?
—Precisamos nos despedir.
—Precisamos nos encontrar, sempre.
—Sim, mas que também nos encontre a Magnólia e o licor de anis.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!


ROSPO 2103 — 890
Marciano Vasques

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O PAI, A CASA AZUL...

—Rospo! Boa noite! Hoje é sexta. Viva! Sexta-feira! Uau!
—É a noite de Freya!
—Quem é ela,Rospo?
—A deusa dos amantes,  do sexo, da atração, da beleza, da sensualidade...Na mitologia Nórdica.
—Viva a Sexta-feira! Merece uma noite na Magnólia.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Vamos, que a calçada nos levará...
—Sapabela, tem pai?
—Tenho não, quer dizer, tenho o meu pai na lembrança das coisas belas que ele me deixou, na simplicidade das coisas que me fazia com sua indelével presença. O pai nunca se vai. E até hoje lembro daquele sapão, à beira do lago, dizendo assim: Filha, tenho um tesouro na vida, que é o seu sorriso. Se ficar triste um dia, eu estarei aqui, sempre ao seu lado. Foi com ele que aprendi, Rospo, que o pai está sempre ao lado da filha, em quaisquer circunstâncias...
—Tem pai que fala coisas terríveis da filha... E tem outros que nem sabe a cor dos olhos da filha...
—Pai é algo gigantesco e inimitável. Um sapo moço que engravida uma sapa, e que diz: fiz um filho na mina... Acredite, Rospo, é um sapo macho, apenas. Ser um macho, como isso é frágil!, e como soa idiota às vezes, como nesse caso do Sapo que fez o filho...
—Prossiga.
—Mandou prosseguir, nisso obediente sou. Você sabe, antes de começar qualquer caminho já sou Pró -seguir...
—Pois então...Já que inspirada está...
—Deve ser a Freya.
—Pois fale, amiga. Para mim, numa noite de sexta, ouvir uma amiga, é tudo o mais que eu queria...
—Sei, mas você não quer apenas ouvir, meu querido...
—Está mesmo inspirada!
—Vai ver só depois do licor de anis.
—Linda!
—Pois o outro sapo, o que sorri para o filho que nasceu, e numa noite de febre do pequeno vai em busca de um analgésico, mesmo com chuva forte, esse sapo "É o cara!", isto é, ele é o pai.
—Bonito, bonito. Mas se domingo é o dia dos pais, nós temos algo para comemorar agora: a Casa Azul faz aniversário. Cinco anos de Blog.
—Rospo, vamos brindar! Vamos brindar!
—Sapabela, como é bom estar ao seu lado numa calçada a caminhar...
—Principalmente quando a calçada leva até a Magnólia.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Que bom para uma sapa ter um sapo amigo!
—Magnólia, bem-vinda!

ROSPO   2013 — 889
Marciano Vasques

domingo, 4 de agosto de 2013

CONVERSINHA BÁSICA DE DOMINGO À NOITE

—Rospo!
—Sapabela! Que saudades!
—Vários dias. Amigos não podem ficar tantos dias assim, ainda mais hoje com tanta tecnologia. Aliás, tecnologia deveria ser para isso prioritariamente: aproximar os sapos amigos, os que se amam...
—Falando nisso, já mandou hoje alguma mensagem para quem você ama?
—Rospo, que conversa é essa?
—Brincadeira, Sapabela. Não recebi nenhuma mensagem sua.
—Está muito engraçadinho hoje. Tomou licor de anis antes da hora?
—Eu?
—Faça-me rir.
—O que manda, Sapabela?
—Agosto chegou! Maravilhoso! O mês maior, o lindão. Festa na mata!
—Quê?
—Sereias, sacis, caiporas... Luzes nas florestas do brejo...
—Que Cascudo!
—A minha amiga continua apaixonadíssima pelo depois. Um caso de amor inigualável. Não tem outro igual.
—E ela é feliz?
—Não. Vai ser depois,
—Entendi.
—Sempre entende.
—Sei que amiga quando gosta exagera, mas não exagere, querida. Nem sempre entendo.
—Está com a sexta-feira toda na alma.
—É domingo!
—Sou mesmo distraída. Talvez por isso minhas roupas não combinam... E acho que sou a única sapa no planeta que adora ser atrapalhada.
—Exagerada!
—Rospo, sapos e sapas não se entendem...
—Ainda bem!
—Está louco, é?
—O planeta está com superpopulação, já beirando além do limite. Já pensou se os sapos e as sapas se entendessem?
—Já vi que hoje resolveu se divertir. Rospo, veja! Viemos caminhando na calçada e ela chegou, com suas luzes resplandecentes. Que linda!
—Magnólia!
—Agora tudo começa.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

ROSPO 2013  —  888

Marciano Vasques

quarta-feira, 24 de julho de 2013

O FASCÍNIO DA TECNOLOGIA

—Rospo!
—Sapabela! Que surpresa! Noite fria, não é? E chuviscando...
—A noite ideal para ir até a Magnólia.
—Topo!
—Entre aqui. Sob o meu guarda-chuva cabe um bom amigo.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Que empolgação, Rospo!
—Sabia que havia sido uma boa ideia esquecer o meu.
—Muito engraçadinho. E então? Vamos nos entrelaçar numa conversa miúda, pois a Magnólia está chegando e logo mais irá fechar. Rospo, tenho um amigo que está desanimado da vida.
—Que coisa chata!
—Diz que quer morrer.
—Precisa avisá-lo...
—Avisá-lo?
—O inferno não suporta mais nenhum sapo.
—Rospo!
—É só brincadeira.
—Sei, está parecendo a Ponta da Praia da sua amiga.
—É...Mas se ele está desanimado com a vida, deve ir pra rua... Deve encontrar sapos e sapas, e ver a elegância da vida nas conversas vespertinas... E fazer amizade com a simplicidade...
—Tudo bem. A rua é uma inesgotável esperança de alegria...
—Sim, tem um sapo de diapasão, desses que amolam tesouras, precisa ver a voz desse sujeito. Parece a sonoridade da alma... Tem crianças brincando, correndo... Assim é a rua, pelo menos assim seria, "se essa rua fosse minha!"...
—Um outro amigo meu escreveu uma poesia do Eu...
—E então?
—Do eu a poesia.
—Estive pensando. É incrível o fascínio da tecnologia, da informática sobre os sapos. Ficam assim encantados, enfeitiçados. E fantástico tudo que a computação pode fazer. Veja os efeitos especiais do cinema, veja o tal fotoshop, veja como os sapos apreciam manipular as imagens... Mudar, dourar as imagens... Criam ilusões que enganam de tão semelhantes com a realidade.
—É incrível!
—Mas me pus a pensar: será que os sapos cultivam, regam diariamente, o olhar?
—Como assim, Rospo?
—Mil imagens, excesso de imagens, de ilusões, tudo muito fascinante, porém receio tenho de que o olhar esteja desaprendendo a ver, a se mirar, pois é para si o benefício do retorno, quando exercita a capacidade de ver, simplesmente ver, as coisas simples: uma flor, uma miosótis rompendo com a graminha no concreto da calçada, o sorriso de um sapinho... Já viu um sapinho sorrir?
—Fico imaginando que seja tão bonito quanto o sorriso de um sapão que eu conheço...
—Nem sabia que você amava um sapão!
—Rospo, eu falei isso?
—Ela chegou!
—Magnólia!
—Luzes despencam lilases e douradas, num aconchego de chuva de galáxias...
—Rospo, o frio está de tremer. Esse tremer roga pelo licor de anis.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

ROSPO 2013 — 886
Marciano Vasques

segunda-feira, 22 de julho de 2013

CONVERSANDO NA NOITE FRIA

—Rospo! Que frio! E nem um cachecol está usando! Aonde vai?
—Sapabela! Por acaso estou indo até a Magnólia. E você?
—Eu? Eu estou por aí. Resolvi curtir um pouco de calçada. Vou com você.
—E a sua amiga apaixonada pelo "Depois"?
—Sei não, o que ando pressentindo é que o "Depois" tomará o melhor da vida dela... 
—O "Depois" sempre toma. Sabe como é: vai adiando, adiando, sem saber que a vida não é adiável, a vida é como o tempo: perdeu, perdeu. Temos que intensamente viver o presente, levar adiante o que nos seduz... 
—Tudo que se nos apresenta no instante é para ser vivido, não é? As alegrias, as oportunidades... Muita vida já deixei de viver quando era uma sapinha adolescente, bem tímida, Perdi muita vida... Rospo!... Um olhar distraído, o chamamento do amor, da poesia... Tanta generosidade, tantos rostos...
—Rospos?
—Rostos! Mas, veja só, eu fui iludida por mim, aquela que me impediu de ser completamente feliz, por causa da timidez... Hoje isso passou, e compreendi que fez parte do aprendizado da minha alma... Alma que almejava ser feliz... mas resistia aos chamamentos pela impossível timidez...
—Sapabela, quase nunca fala de seu passado...
—Entre nós, amigo, o presente é a força extraordinária do viver, da poesia do mundo, da arte que resiste e explode em mil cores, sons, luzes, e coloridos... E ela nos salva... Quem salvará o mundo são os artistas...
—Eu sei.
—Se fosse possível se viver num mundo que não necessitasse de tanto militar... Mas, bem sabe, meu querido... nenhuma utopia se aconchega em meu coração, que, não se esqueça, é o eixo de todas as andanças, e danças, e alegrias que encharcam a minha vida...
—Fica inspirada no frio. Sim, menos soldados... Mas aprendi, querida, que o mundo ideal não é o mais interessante, entendeu? 
—Não!
—Eu chego lá. O mundo interessante é aquele que nos completa a cada dia, mundo de prantos, de injustiças, de dores, de risos, gargalhadas, festas, abraços, esperanças, ternuras... É nesse mundo maravilhoso que nos movemos e é nele que cada um que aprendeu a cultivar a consciência, luta incessantemente para que os outros sejam felizes. Essa é a nossa maior glória: dedicar as nossas forças, a nossa energia, a nossa vida para que o outro seja feliz.
—É mesmo?
—Sim, minha querida... 
—Novamente.
—O que?
—Falou "Minha querida". O frio é bom. Por isso que ele é bom.
—Pois é, mas, o outro é o objetivo maior e o grande centro da vida.
—Tem certeza?
—Veja só: sei que ninguém tem tempo. Tantas ocupações, e ainda o Facebook, tanta coisa!, como vai ter tempo para refletir?... Mas... todas as atividades humanas do Sapo é para o outro... Tanto no bem quanto no mal... A tendência de se fazer mal é sempre contra o outro, claro que aí entra o tal bumerangue e o sapo que faz o mal para o outro está fazendo para si mesmo...E tem mais, veja no bem: tudo, tudo, tudo que a Ciência fez foi pensando no outro. Por acaso já pensou que acende a lâmpada com um toque no interruptor? E que sacrifício era para o escritor!, e agora, diante da tela, tudo ficou mais fácil, e os cientistas que se debruçam noites e noites e dias e dias tentando encontrar a cura de alguma doença, sabendo que farão isso para a futura geração, pois os beneficiados nem sempre são os próprios, mas aqueles que virão...
—A Ciência causou danos também...
—Nem fale isso, querida, e nem pense nisso. Pense que a Ciência é um bem... Sempre... Sobre o mal é uma questão de Educação, de educar o sapo... É a falta de rigor na compreensão de que todo aquele que prejudica precisa pagar pelo mal... Seja um ditador, ou um sapo do povoado... Porém, que maravilha é a Ciência! Quanto bem! Quanta felicidade! Antes que diga que avião joga bomba, pense que o poder é que faz isso, o poder e seus tentáculos gananciosos. Da janelinha do trem poderá talvez sentir com mais propriedade e força o quanto de bem a Ciência já fez ao mundo... Pois esse é o seu objetivo... O mal será sempre um desvio... A invenção do plástico reduziu o sofrimento medonho dos elefantes, pois até os cabos das facas eram de marfim, porém se elefantes ainda sofrem, isso é uma outra questão, é a questão principal, acima de todas. Só com educação se reduz as trevas, e o sofrimento do mundo. Educação é a única alternativa.
—Curioso, meu amigo...
—O que, querida?
—Oba! Novamente!
—Você é muito engraçada.
—Você falando essas coisas... É um poeta, e argumenta um assunto das exatas, fala da Ciência... Que produz avião, remédios...
—E o laser que projeta o poema na noite da cidade. Ora, Sapabela, não vejo um só respingo de contradição. O poeta é um amante da vida... Ele é o mais perfeito amante, embora, bem saiba, a perfeição é apenas um jeito de se tentar melhorar... Mas o poeta, que ama a vida, e só pela vida se interessa, certamente ama a Ciência. Não há contradição.
—Vou ter a insônia da conversa hoje.
—É assim que tem que ser: a conversa deve ser levada para todos os lugares...e até para a cama...
—Para o sofá...
—Sapabela!
—Rospo, chegamos. Ela chegou!
—Magnólia! 
—Amigo, hoje só o licor de anis!
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Assanhei!...

ROSPO 2013 — 885


Marciano Vasques

domingo, 21 de julho de 2013

VIAJANDO NO TEMPO DAS COISAS QUE SÃO

—Rospo!
—Sapabela!
—Domingo! Noite fria!
—Isso faz pensar em...
—Em tanta coisa boa... Licor!
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Onde está indo, amigo?
—Estava! Estava por aí, andarilhando... Mas agora, você apareceu, e já estou indo com você...
—Rospo, dê uma avistada daqui. Veja como é linda! Resplandecente, repleta de luzes. É a Magnólia.
—Sapabela, preciso dizer algo.
—Essa é a necessidade primordial, dizer algo.
—Não é sugar?
—Mas o diálogo começa ali, naquele momento! O bebê descobre que o mundo é amoroso ao sugar o leite farto que o fará feliz...
—Todavia, depois ele poderá descobrir que o mundo nem sempre é amoroso, e menos ainda, coerente. O mundo parece o brejo, com suas discrepâncias e insensatezes...
—Verdade, Rospo. Métodos cruéis de tortura ainda são utilizados para se obter ou forjar confissões, como enfiar uma estaca.., quer dizer, empalar, provavelmente a mais cruel das torturas, mas esse atraso ainda viceja em nosso brejo, e tantas injustiças... Como o abandono de cães.  Porém, a atenção governamental só tem um olhar, as próximas eleições. Ainda bem que nosso brejo é fictício.
—O sapinho aprenderá desde cedo que o mundo é feito pelos sapos, por isso pode ser justo ou injusto, mas se tiver sorte, será feliz, pois poderá ter contato com os espíritos encantados, que repousam nas bibliotecas... Escritores, poetas...além de artistas...
—Artistas! Sim. Grandes compositores, grandes pintores, grandes...
—Grandes artistas circenses, de rua, que divertem os sapos simples e humildes dos vilarejos... Onde houver um só sinal de que um cigano com seus trajes coloridos faz um só criança sorrir, o mundo nos revelará a sua beleza, o seu esplendor e o seu significado.
—Seria bom se o mundo fosse sempre justo e belo.
—Ele é belo sim, essa beleza é a dádiva do tempo que está no presente... Porém, ele é feito de sangue, de luta, de muita garra e muito sacrifício. Para que as novas gerações, as crianças e os jovens, para que possam ser felizes, muitos sapos e muitas sapas sofreram.
—Fale o nome de uma sapa.
—Patrícia Galvão, a Pagu.
—De um sapo.
—Giordano Bruno.
—Tem tudo na ponta da língua, não é, amigo?
—Quando uma criança olha de sua janela para o brilho das estrelas e contempla a maravilha da imensidão, e até sonha com viagens interplanetárias como se estivesse no gibi, seria tão bom se ela pudesse saber que um sapo um dia morreu queimado na fogueira, para que ela pudesse agora viver esse momento encantador...
—Rospo, essa conversa me deixou tão feliz...
—Porém falamos de coisas pesadas...
—Nada do que é anfíbio me é estranho!
—Vamos? Eu a convido para...
—Sim!
—Nem falei!
—Mas já aceitei!
—Sapabela, qual é a sua flor preferida?
—Girassol, você sabe, meu nego!
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Rospo, já disse: minhas roupas não combinam. Se pudesse rolaria na grama com as crianças, sou atrapalhada e me esforço pra continuar sendo, mas sou tão feliz, e ter um amigo é como ter um livro, é como ter uma "longa estrada da vida".
—Chegamos!
—Magnólia, um beijo!
—Mandando beijo para padaria, querida?
—Para tudo que ela representa em nossas vidas.
—Conversa boa... De coar café, de semear grãos...
—Merecedora de um licor.
—Anis!
—Eu que sou feliz!

ROSPO 2013 — 887
Marciano Vasques

O PÃO NOSSO DE CADA DIA, O LICOR NOSSO DE CADA NOITE

—Rospo! Hoje é domingo e já passou a alvorada. Que alegria encontrá-lo!
—Felicidade, amiga! Nossos encontros são retalhos da felicidade, essa tão exigente senhora...
—Como assim?
—Ora, Sapabela, uma das exigências da dama regente é o apego ao simples. Ela vive na simplicidade e quem não compreende isso procura por ela no luxo... Errou de viés.
—É mesmo, não é, Rospo? Um brinco cravejado de ouro ou algo assim, não mais tem o objetivo de enfeitar o rosto de alguém que já é por natureza bonita... Ele passa a valer luxo, essas coisas que as sociedades anfíbias inventam... Um carro deixa de ser um meio de transporte para ajudar na vida, e que deve sim ser bonito, pois beleza se põe nas coisas, e beleza é diferente de luxo, e o carro passa então a se tornar uma ostentação, um sinal de riqueza... Que pobreza! E tudo isso porque tem sapo que acredita que a tal dona, a Felicidade, a regente, está na riqueza, nas posses, e no luxo. Quando descobrirem que ela reside na simplicidade então já será tarde. Mas, que história é essa de regente?
—É a busca pela felicidade que rege a vida de qualquer sapo. Assim, todos os relacionamentos são baseados nessa procura... E ela está ali, onde sempre esteve, na simplicidade....
—Sei, um sapinho tem a chance de ser mais feliz, não é?
—De forma autêntica e sem se preocupar com isso, mesmo que sofra com os gritos de algum adulto ou até mais, estará firme, pois ainda não foi pego pelo Ter.
—Sim, mas a sociedade de consumo acredita poder transformar a criança, o pequeno, em prisioneiro do Ter...
—E conta com o auxílio de apresentadoras de programas infantis televisivos e tudo o mais, porém se esquece que sapinho quer brincar, quer ciranda, quer ser feliz... Só isso. Ter ou não ter não importa para quem se ocupa de apenas ser. Sapabela, ontem a noite você chamou grilo de grilho, foi erro de digitação?
—Lá vem ela!
—A Magnólia?
—Não, a Metalinguagem. Rospo, na verdade, quando eu disse grilho eu estava dizendo grilo brilhante.
—Sempre consegue se sair bem, não é?
—Minha mente não aceita grilhões, e meu coração, bem sabe, é aquecido pelo licor. Falando nisso estou indo agora para a Magnólia.
—Logo cedo?
—Buscar o pão, seu bobo! O Pão é o alimento do corpo, você sabe. Na seiva dourada do Sol, o pão complementa, por causa da dourada seiva do trigo. E à noite, para agradecer ao brilho das estrelas, para reverenciar esse brilho, licor. Como sabe, se o pão alimenta o corpo, o licor, a alma.
—Mas o Sol é uma estrela!
—Era! Ou melhor, é sim, na Ciência, nos livros didáticos e nos estudos. Sabemos que é sim, porém entre nós ele é um símbolo bonito, como um girassol na imensidão azul. É como a lua, o que é ela para os cientistas, é de fato o mais real, mas nós, os que tivemos a alma banhada pelo seu manto e seus raios azulados, sabemos que a lua é dos namorados, dos poetas e dos amantes...
—Sapabela, vou com você. Pode?
—Ofendeu-me com essa pergunta. Você sempre pode. Somos amigos,  e amigos caminham juntos... Principalmente em direção à Magnólia.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!


ROSPO 2013 —886
Marciano Vasques

sábado, 20 de julho de 2013

SEMEAR, SEMEAR...

—Sapabela!
—Auahihuuuuuuuuuuuuuuu!
—Sábado!
—Noite!
—Luar oculto!

CONVERSA DE SÁBADO À NOITE

—Rospo! Auahihuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
—Que alegria, Sapabela! O que a fez assim tão fabulosa?
—As fábulas, Rospo. As fábulas! Hoje é sábado! É noite de sábado!
 —Que maravilha, querida!
—Não vai me convidar para nada? Um garapa ao luar azul da praça, um licor na Magnólia, uma conversa descompromissada...
—Claro, eu a convido para...
—ACEITO!
—Você é maluquinha, não é?
—Eu me esforço, Rospo!
—Tem uma coisa que falou que discordo.
—Discorda?
—Digo corda, cordel...
—Do que se trata tal referência, amigo?
—Gostei de sua pose, querida. Mãos na cintura. Pois bem, veja só: ao dizer "conversa descompromissada" enganou-se.
—Auahihuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
—Que alegria súbita é essa?
—Adoro me enganar. Só não gosto de ser enganada, mesmo assim voto.
—Pois bem, toda conversa é compromissada, tem pelo menos o compromisso da alegria. O que falta no mundo do brejo é conversa. Na falta de conversas, os sapos falam demais. E acabam falando o que não devem nem precisam... Por isso a conversa é saudável e necessária: com ela evita-se o desperdício da fala vazia, sem rumo...
—Rospo, você vai fundo.
—Sempre!
—Olha!
—Sapabela, digo algo: só tenha medo de brincadeira. Se não tiver segurança com seu amor, é bom resolver isso logo.
—Um  grande amor...
—Pleonasmo. Todo amor é grande em si, e por si.
—Rospo, estou assanhada de conversa. Diga uma coisa: quem leu Literatura Infantil na infância tem a probabilidade de ler uma obra universal qualquer tipo "O Elogio da Loucura", por exemplo?
—Erasmo de Roterdã. A bondade nasceu com ele. Ele é o fundador da bondade...
—Ele organizou através de si a bondade.
—Ninguém disse isso na PUC, nem na USP...
—Ninguém estava aqui conosco conversando, não é, meu caboclinho? É bonito isso?
—Gosto mais do "Meu nego". Isso é encantador pois revela a criatividade amorosa da voz popular... É pura cortesia da alma linda do povo do brejo. Nas andanças da oralidade mil parlendas encontrei... Vi pelejas alegrando os sapos dos povoados, vi Zé Pretinho desafiando Cego Aderaldo...
—Essas almas todas formam um mosaico de lendas que estilhaçam a voz do Brejil em mil alegrias. Feliz daquele que ousou. Isso sim é ousadia de viver! Estar na alegria da voz que vem das lendas...
—O quintal de Solano Trindade...
—Essa conversa está me deixando feliz de ficar ao léu... E eu mesma respondo: quem leu sim Literatura Infantil na infância, e leu pra valer, e teve o privilégio da oportunidade de ler os clássicos da Literatura Infantil sem nenhum adulto para atrapalhar, terá sim uma probabilidade maior de ler os grandes clássicos da Literatura Universal, da Filosofia... Com certeza... Não terá como escapar da única riqueza infinita, que é a Literatura...A Literatura é o que se lê, é a Filosofia, a Poesia... Sei que temos imensos castelos de teorias, mas para mim a Literatura é tudo isso, e tudo isso é a vida na sua extração mais espetacular... Sim, pois é um espetáculo... Como a vida. A vida é um espetáculo. Um menino sapinho se tiver a chance de olhar um grilho molhado numa tarde chuvosa, se conseguir alcançar, decifrar o grilo entre as folhagens, se conseguir isso de sua vidraça, e também descobrir subitamente o arco íris nas gotículas que deslizam no vidro, estará diante do espetáculo infinito da vida, do mundo, que sempre monta seu picadeiro dourado nas páginas de um livro.
—Felicidade de papel de seda colorindo o azul celestial.
—Rospo, você é feliz ao ver as coisas que passam?
—Recentemente vi uma menina, uma sapinha lendo um livro e os dois autores eram meus amigos no Facebook...Disse isso a ela, mas não houve um esboço de interesse.
—Sofre com isso?
—Não, Sapabela. Mas sou feliz demais.
—Sabe, Rospo, Platão inventou o diálogo porque a mudez não mais cabia, e Jorge Luiz Borges trouxe as belas imagens da sua literatura em sua cegueira.
—O segundo cego da conversa, Rospo.
—Cegos sim, mas repletos de luzes. Entra o Glauco?
—Sim, naturalmente! Chegou!
—Magnólia! Querida Magnólia! Aqui seremos e aqui estaremos, e um dia alguém ativará algum risco de memória e dirá: eles estiveram na Magnólia.
—Rospo, só tenha medo de brincadeira. Você jamais me perderá. Seremos amigos porque somos amigos...
—Sapabela, preciso dizer algo.
—Diga, que me esbaldarei contemplando os vitrais da placenta do seu dizer.
—Quando olho para a imensidão da quietude do brilho das estrelas, e penso que um dia irei embora, sinto uma certa angústia, um certo sentimento de solidão ainda maior, e então, sinto o retorno desesperado da necessidade de literatura.
—Rospo, licor de anis, por favor.
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

ROSPO 2103 —884
Marciano Vasques

quinta-feira, 18 de julho de 2013

É ISSO QUE O SAPO QUER!

—Sapabela, a melhor coisa na vida de um sapo é ter a sapa ao lado. Sempre.
—É mesmo, Rospo?

quarta-feira, 17 de julho de 2013

MOÇA DE MOÇAMBIQUE

A olaria,
O alambique.

O doce caseiro:
Nem sabe, moço,
Como  é reconfortante...
Veludo no braseiro
Ou na mudez cortante...

Nem um dique
Represa
A correnteza
dessa vida...
Nos passos de poeira avermelhada....
As panelas fumegando na periferia.
Esgotadas  almas almejando
Janelas
Com flores artificiais
Num roto plástico, e cortinas
Com bordados invisíveis.
E vidraças ensaboadas...

O desejo não desbota...
E o sorriso é o viço do rosto.

Visse?

E num clique
Fica tão bonita.
O piercing, a saia curta, o jeans.

Não verás cadência igual.

Num repique de festa anunciada
Numa distância feita pra sonhar...
Pra que cuidar da psique
Se fica um charme só viver?...

Sem perder jamais o pique
Ser uma flor na aridez.

E a moça de moçambique...
No tique-taque do cabelo,
E na onomatopeia
da insônia.

O tempo passa, mas não leva
Essa alegria de moqueca...
Do aroma do bolo de aipim...
Do rosado giz do alfenim...
De moleca...
Rabiscando
E Rebuscando
A cada novo amanhecer
A doçura de viver.

MARCIANO VASQUES


terça-feira, 16 de julho de 2013

A FLOR PRINCESINHA

—Sapabela! Uau! Ganhei a noite!
—Nem cheguei, amigo!
—Mas estás aqui, com todo o querido teu jeito. Tua companhia me faz bem, e se danças aperfeiçoa a minha vida, se sorris, também: ao sorrir acendes as faíscas do esmerilhar de minha alma, e o que era apenas um fiapo de luz torna-se o fulgor de mil lanternas azuladas...

segunda-feira, 15 de julho de 2013

NA PADARIA MAGNÓLIA

—Sapabela! Assim Lunes fica mais bonita. 
—Rospo, meu amigo querido! Vontade louca de conversar... conversar é conservar o melhor da vida. E agora temos uma padaria nova, a Magnólia. Vamos?
—Só se for agora.
—Licor de anis!...
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—"Falei porque eu quis!"

quinta-feira, 11 de julho de 2013

NA PADARIA SAFIRA

—Sapabela! Yupiiiiiiiii!
—Uuuuuuuuuuuuu! whnangzran!
—Que alegria, querida! Hoje é quinta! Dia do Trovão! O mais místico dos dias. Quinta. Adoro quinta! Sítio, lugar... Tudo que nos é de Espanha e de Portugal.
—Ê coisa boa! E o tempo voa!
—Sapabela! Mil dizeres num carretel...
—Num cordel!

terça-feira, 9 de julho de 2013

O DESFILE DE EGOS

—Sapabela, que saudades!
—Rospo! Que alegria!
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Está bem, está bem!...
—Novidades?

quarta-feira, 3 de julho de 2013

CIDADE DAS CANTIGAS

Belo encontro na Praça Victor Civita, em São Paulo, 
no último dia de Junho.
Estreia da peça CIDADE DAS CANTIGAS.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

CANÇÃO DA NAMORADA!

http://youtu.be/bKoiwU15s7M

quarta-feira, 19 de junho de 2013

O VANDALISMO SOFISTICADO

—Rospo!
—Sapabela! Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Que empolgação, Rospo!
—É pelo licor de anis, pelo bolo de cenoura.
—Rospo? Que história é essa? Está me associando com gostosuras? É essa a minha valoração?
—Estou brincando, Sapabela! Sabe que encontrá-la numa noite de sexta, é tudo de bom.
—Hoje é quarta, Rospo!
—É mesmo!  Mas sabe o quanto me faz bem a sua presença!
—Obrigado! Viu alguém deitado em berço esplêndido?
—Não, mas vi uma multidão rasgando ao meio a cidade com uma passeata.
—Que coisa boa, amigo! E tem algo a dizer sobre o vandalismo? Muitos falam mais disso.
—Tem um vandalismo sobre o qual ninguém fala, Sapabela!
—É?
—Sim, o vandalismo oficial, dos governos que promovem uma depredação na alma do povo.
—Agora ninguém segura o Rospo!
—Engraçadinha! Ocorre que eu gostaria de falar um pouco sobre esse outro vandalismo, o sofisticado, bem camuflado, com eventos esportivos, novelas, propaganda, populismo, assim, imperceptível, invisível até, cujo olhar anestesiado pela Rede de TV...
—Menino!
—Então, pela tela que anestesia, não se percebe, mas é danoso, causa estragos irreversíveis. Sequelas na consciência, sofrimento na vida...
—Diga!
—Veja alguns exemplos: um jovem que chega na sétima série e mal sabe ler, ou seja, interpretar um texto.
—Danou-se.
—Agora vou em frente.
—Pois que seja.
—Isso é um vandalismo dos governos do Brejo.
—O nosso Brejil. Mas, continue.
—Só obedeço!
—Querido. Está bem entusiasmado hoje. Dê outro exemplo de abandono, de vandalismo,  como esse da Educação na escola pública, descaso de muitos governantes.
—Povo educado é problema nas hastes do poder.
—Rospo! Outro exemplo, por favor.
—Conduções superlotadas, veja a qualidade do transporte público, não dá mais conta da população; arenas, isto é, estádios construídos com dinheiro público e o povo depois ainda paga ingresso para entrar; uma programação bestial sem critérios e altamente desrespeitosa, causando danos no intelecto coletivo, que deveria se insurgir na multidão com o grito de guerra "Indenização mental, pelos estragos causados ao intelecto".
—Rospo, está delirando! Jamais teremos uma passeata por melhor programação na TV.
—Querida, vou dizer algo: Jamais duvide do Brejil. Nosso brejo tem uma cadência, uma alegria, uma festividade que só ele tem... Tudo aqui pode acontecer.
—Mais algum vandalismo oficial?
—A corrupção, as máquinas administrativas e governamentais trabalhando por candidatos oficiais, o desvio de verba pública, o descaso para com a população, a hipocrisia palaciana, o deboche...
—Entendi, amigo. Nunca havia pensado nisso, Rospo: um vandalismo oficial, dos governantes.
—Sim, e veja que essas manifestações populares, que trouxeram um lúdico colorido na cidade, que maravilha!  Sacolejou o marasmo, o morno da política, que fica nesse discurso de só pensar em 2014, o tal ano CC...
—Que é isso, Rospo?
—Copa e Candidatura!
—Bonito, gostei! Rospo, obrigado por me fazer pensar em algo sobre o qual não havia me dado conta...
—Enquanto você não se dá conta paga a conta sozinha... E não pensou antes, pelo fato de que sempre tem a primeira conversa.
—Rospo! Padaria Rubi?
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
—Que escarcéu é esse, amigo?
—O Sapo sempre fica assim quando a sapa quer aconchego.
—Sei não, Rospo, está muito eufórico. Mas, adorei as tirinhas do ROSPO... Ver Rospo e Sapabela em quadrinhos, bom demais.
—Metalinguagem? Viva! Adoro!
—Eu também! E aproveito pra dizer que aprecio muito quando você interpreta comportamentos... Fantástico! Aquela tira em que aparece fazendo pirueta equilibrando sobre a língua é excelente. Reproduz ludicamente o comportamento de muitos machos que fazem exibições, extravagantes até, para atrair a atenção da fêmea. Pois eu digo algo, eu!, que nasci com o dom de ser companheira...
—Diga, com estilo, como sempre, aliás. De estalo em estalo a sapa finca o seu estilo.
—Pois bem, eu ia dizer que para me conquistar o sapo não precisa se exibir. Nada dessa baboseira que muitos fazem de se exibir com moto, ou modelando o físico ou outros "atrativos"...Não precisa de nada mirabolante, aliás, para me conquistar o básico é ser simples. A simplicidade tem para mim um elevado feixe de atração, sou pinçada no simples, e tem mais, o principal, tem que ter alma, e quer mais?, tem que ter paixão, Isolda!
—Ninguém segura é a sapa!
—Rospo, chegamos! Padaria Rubi, segura um beijo!
—Lançando ao ar um beijo pra padaria, Sapabela?
—Essa é a minha lógica, Rospo!
—Já sei, uma lógica mágica.



ROSPO 2013 —878
Marciano Vasques

terça-feira, 11 de junho de 2013

A PRIMEIRA VEZ DESNECESSÁRIA

—Rospo!
—Sapabela! Saudades! Estava necessitando mesmo de uma fábula!
—Lindo!
—O que tem para conversar?
—Pra conservar?
—Isso! Que conversa conserva!
—E se conversa com verso, melhor ainda!
—Então, vamos!
—Queria falar sobre a primeira vez.
—Esse assunto me interessa muito!
—Mas pode tirar o corcel do temporal. O que quero falar é sobre a primeira vez na rotina das coisas que são... E você sabe, precisa de uma boa retina para esmiuçar a rotina.
—Uma palavra aconchegante sempre retine em nossas conversas.
—E não se esqueça: aconchegante é sinônimo de precioso.
—Menina!
—Pois quero então falar sobre a primeira vez no cotidiano.
—Comece, por favor.
—Um sapo jamais deveria xingar uma sapa pela primeira vez num relacionamento amoroso ou rotineiro.
—E nem a sapa gritar.
—Com efeito. Eis ai dois exemplos de acontecimentos que jamais deveriam ter a sua primeira vez. Um  simples descaso... Não suporto descaso! Se caso e tem descaso descaso.
—Prossiga minha colorida amiga.
—Aprecia minhas roupas, Rospo?
—Sim, demais. Porém, prossiga.
—Descaso, gritos, xingares, desatenção, enfim, os venenosos estilhaços do abandono na rotina dos dias...
—Todavia, e se aconteceu, Sapabela?
—O sapo ou a sapa não devem ficar se remoendo. Lástima é última opção. Veja só: Se aconteceu é preciso que o sapo ou ela passem a zelar...
—Azular?
—A zelar, meu caro!, a cuidar do prosseguimento da vida, pois bem sabe, é uma trepadeira que segue estrada afora, sem pedir licença vai adentrando a névoa do tempo,  esmiuçando - se nas nódoas de uma existência. Mas antes passa pelo turbilhão de rios cujas águas refletem o chamamento do mergulho essencial, que é o da alma...
—Inspirada hoje, querida.
—Claro, nossas conversas foram para os quadrinhos!
—Adoro metalinguagem!
—Eu também. Mas, como bem dizia, caso pela primeira vez tenha ocorrido o desgaso, a agressão, o abandono, o xingamento, o sapo ou a sapa devem cuidar para que não se acostumem, não façam de tal coisa um acontecimento que de tão áspero nem esporádico merece ser. As  esporas são parentes das algemas... Que não são coisas triviais.
—Continue, está bom demais.
—Você é esfomeado de diálogos, não é, amigo?
—Sim, insaciável fome, como devem ser sempre as fomes essenciais.
—Pois bem, a primeira vez pode ser um marco, uma dura e implacável erosão nos relacionamentos, nas amizades, nos amores, ou simplesmente nas convivências... Porém, o importante é que cada qual possa assimilar o que de fato interessa. Só o presente vivemos. E é no presente que cada um deve tocar a sua vida. Gritou? Xingou? Berrou? Tudo isso deve ser reduzido à fuligem da alma que deve ser removida. O resto é tocar em frente, e compensar agindo em retidão para com o outro.
—É bonito isso. Nenhuma sapa merece a falta de respeito!
—E nenhum sapo!
—Então, me disse que o perdão é essencial?
—Perdão é sempre uma perda imensa, no sentido de que a sua necessidade é a tristeza de uma vida, mas todos somos providos para enfrentá-lo, e se abrir para ele é a gloriosa façanha da alma.
—Gostei, gostei. Eu pensava que o sapo devesse viver se amargurando pela vida.
—Primeiro de tudo, sapo não é nem boldo nem losna. Então, amargura demais enjoa, como já bem disse alguém. Agora, vamos em frente, e o rigor na reflexão deve servir apenas como bússola no aperfeiçoamento do sapo, que não deve jamais se esquecer de que sapos de ferro só no cinema, e no gibi.
—Sapabela, viva o presente!
—Que presente, Rospo?
—O hoje, o instante que vemos.

ROSPO 2013 — 877
Marciano Vasques

quinta-feira, 30 de maio de 2013

E VIVA A CONVERSA BOA!

—Rospo! Que linda noite de sábado!
—Hoje é quinta, feriado, lembra?
—É mesmo!

terça-feira, 21 de maio de 2013

A MENININHA E OS NAMORADOS

—Novamente!
—Novamente, o quê?
—Sapo! Outra vez? Pode se mandar?
—Nem cheguei!

—Qual é o problema?
—Estava beijando a sua namorada na boca, ardorosamente. 
—E daí?
—Viu quem está do seu lado? Por acaso reparou que ao seu lado está a irmãzinha dela? Uma sapinha ainda? Uma menininha? Gosta de livro infantil?
—Não sou mais criança!
—Já foi?
—Está tirando um sarro comigo?

—E gibi?
—Sapo, esqueci o seu nome.
—Esqueceu de bobeira. É Rospo.
—Pronto! Já está satisfeito? Pode ir agora?
—Compreendo que essencialmente o amor romântico tenha uma dose de egoísmo. Porém aprendi desde cedo que uma dose geralmente não faz mal. Ocorre que o amor não suporta a estupidez, não atingiu ainda um grau de idiotice tão imenso. O amor não é uma máquina de fazer alienados...
—Posso bater nele?
—Não, querido, é apenas um sapo qualquer.
—Quase acertou em tudo, só errou no "qualquer". Mas, e então? Não vai melhorar?
—Como é? Está perguntando pra ela ou pra mim?

—Tanto faz. Por acaso não sabe que melhorar só tem um efeito colateral?
—Qual?
—Faz bem para todos os que estão ao seu redor.
—Esse sapo já encheu!
—Está perturbando o meu namorado! Por que não diz logo o que quer?
—As marcas da infância são indeléveis.
—O que é isso? 
—Elas não se apagam por completo jamais.
—O que estamos fazendo de errado, sapo?
—Rospo, por gentileza.
—Então diga, seu Rospo!
—O que estão fazendo de errado é o beijo.
—É louco!
—No mundo de hoje a lucidez virou loucura.
—Qual o problema com o nosso beijo? É muito erótico? Perturbou você que não tem ninguém para beijar hoje?
—Isso, meu bem. Tasca nele!
—Olhe, vou dizer qual é o problema. Não posso competir com a cegueira.
—Diga logo, pois estou dando muita atenção para você.
—O problema é ela, aí, do seu lado.
—A menina?
—Sim, ela está constrangida. Não sabe onde esconder os olhos. Ela tem que passar por isso? A sua inconsequência, a sua insensatez faz isso?

—CHEGA!
—Quem beija também berra o grito dos tolos.
—Agora ele apanha!
—Já contou uma história de Andersen pra ela?
—Pra minha namorada?
—Pra menina!
—Não, não contei. Quem é esse cara?
—O que mais você não fez?

—Rospo, você está incomodado pelo fato que eu posso beijar a minha "mina" na hora que eu quiser, nos lugares que eu quiser.
—Meu querido. Está enganado. Um belo engano, por sinal. Você não pode beijar, da forma como beijava, a sua menina quando ela traz a irmãzinha dela para ficar ao lado.
—Essa menininha deve até assistir novela!
—Não justifique você pela multidão.
—Pode traduzir essa frase?
—Não, não posso. Mas, preste atenção: a menininha está ao seu lado e vocês num estendido beijo retorcido... E você não trouxe sequer um gibi para a pequena, nem um livro. Ora! É realmente muito romântico, não é? Pois eu digo: tem a namorada que merece!

—É moralista, Sapo?
—Não, querida, nem pensar. Mas, alguém já disse a você que a criatura mais pura do planeta é a menina?
—Não, ninguém disse.

—Mas alguém certamente já disse isso para o mundo.  Alguém que participou do rompimento da mudez para estabelecer o diálogo com a surdez....
—Sei lá do que está falando! Quem disse isso para o mundo?
—Que tal Nietzsche?
—Não foi esse cara que morreu louco?
—Bem, preciso ir. Mas, por favor, não prejudiquem a menina.
—Ninguém vai prejudicar ninguém com um beijo.
—O que mais quero é que todos os namorados sejam felizes. Aliás, quando as praças do mundo voltarem a ser dos namorados poderemos voltar a sonhar com um mundo feliz.
—Então, Rospo, viu? Namorados nas praças.
—Sim, e criancinhas também, menininhas.
—Meu Deus, não se pode nem namorar em paz!
—A paz de cada um não pode causar estragos no outro.
—Estragos? Amanhã ela nem vai lembrar desse beijo na boca, senhor Rospo!
—Pois é, antes fosse.

ROSPO 2103 —875
Marciano Vasques

terça-feira, 14 de maio de 2013

O QUE SE PERDE PARA SEMPRE

Na nervura da tarde um casual encontro:
—Sapabela! Saudades!
—Rospo, feliz demais por vê-lo!
—Sapabela, vamos...?
—Aceito!
—Nem terminei o convite! Como pode ter tanta confiança assim em mim?
—Rospo, sabe qual a única coisa que quando se perde jamais se encontra de volta?
—Não!
—A confiança! Perdeu, perdeu para sempre. Nunca mais será retomada. Adianta não vasculhar o fundo do rio, perseguir cordilheiras, atravessar vales... Pode procurar no mundo inteiro, nos dois mundos, e verá que não verá jamais...
—Sapabela, que dois mundos?
—O mundo tem duas dimensões, temos portanto, dois mundos. Um é o da memória, o mundo do Eu, no qual um vasto universo se agita todos os dias, a cada novo instante, e quando um instante passou, outro já chegou. E esse mundo prossegue, num turbilhão de sensações, de neurônios, neuroses, lágrimas, gargalhadas, desventuras e aventuras de ventanias num avental de sonhos ou dissabores que não se dissipam. Cada vida é um complexo universo que some na poeira, na fumaça, mas ficará para sempre na semeadura do inatingível Eu, onde tudo se mescla e os sentidos se fundem, pois tudo é imenso demais para se perder.
—Entendi.
—Rápido!
—Aprendi com Sapabela! Quero ser sempre rápido...
—Não diga bobagem, Rospo!
—Está bem, sua danadinha. Mas, compreendi. Tem dois mundos: o real, que é o mundo exterior, e o que está dentro de você, que é o da memória, dos sentimentos, o das histórias que precisam ser narradas. A vida que clama pelo destino literário.
—Muito bem. E assim é a confiança: Perdeu, perdeu para sempre. Jamais se recupera a confiança perdida.
—Bem radical isso, nega.
—Que saudades!
—Do que?
—Desse "nega"...
—Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Isso é bom demais da conta. É uma coisa tão amorosa...
—Pois então...
—Mas você parece que tem uma confiança cega...
—Tal coisa é profundamente pleonástica, Rospo! Não existe confiança cega. Existe confiança.
A confiança só age na luz. A confiança não é cega. E a fonte de confiança, aquele que gera a confiança, aquele que promove a fonte, esse deve se preocupar diariamente. Deve ser zeloso, cuidadoso, pois afinal ele é a fonte, a confiança é dele. A confiança é sempre um bumerangue. Quando você se torna uma fonte geradora de confiança, você está cativado por essa fonte, e se torna responsável por aquele que confia.
—E quem confia?
—Quem confia deve permanecer tranquilo. Quem deve viver a força sugadora da confiança é quem gerou a fonte da própria. Pois afinal, bem sabe agora, perdeu, perdeu.
——Os políticos não merecem confiança!
—Rospo, um belo corte, embora desnecessário aqui. Mas vamos lá: isso é um estereótipo. Tem político que merece sim a confiança da população do brejo.
—Cadê? Cadê? Onde estão esses políticos?
—Rospo, vai dar muito trabalho ficar procurando um agora, mas sei que eles existem sim. Porém. para fechar a conversa, quero dizer que a confiança plena também é uma ideia pleonástica, pois confiança é ou não é. Não existe esse negócio de plena. Ou confia ou não confia. No mais, é como eu disse: Perdeu, dançou. Vai ver escapar entre os dedos o mais precioso tesouro. Quem deixou de confiar vai sofrer com a desilusão, mas a perda incomparável, a medonha perda, essa é de quem gerou a fonte da confiança. Esse vai amargar uma perda sem retorno.
—Sapabela, que coisa! Deixe-me agora completar o convite: vamos tomar um licorzinho de anis?
—Vamos! Um licorzinho hoje abre as luzes outonais de junho, que anunciam a força junina da nova estação que aporta...
—Sapabela, como estou feliz! Chegamos! A padaria Rubi está brilhante. As luzes cacheadas num alegre esplendor. Será que outros sapos estão vendo assim?
—Dividir a felicidade é o maior ensinamento da Filosofia, Rospo, mas esperar que o conceito de felicidade esteja em cada coração da mesma forma, é pois acreditar que se possa uniformizar aquilo que é universalmente livre...

ROSPO 2013 —874
Marciano Vasques


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